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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O LEGADO DE NÉSTOR KIRCHNER


Néstor Kirchner (1950-2010)
O noticiário recente sobre os Kirchner é amplamente negativo, mas é preciso saber ver toda a floresta, e não apens uma árvore. A História se lembrará de Néstor Kirchner por duas grandes iniciativas de seu governo (2002-2006): a recuperação de uma Argentina devastada pela mais grave depressão econômica de sua história e o resgate dos direitos humanos, com o fim da lei de obediência devida, permitindo que os militares criminosos voltassem ao banco dos réus e à cadeia. Numa dimensão histórica, portanto, ficarão menores as suspeitas de enriquecimento ilícito, as acusações de manipulações estatísticas, o estabelecimento de uma “dinastia presidencial” e o cerceamento à mídia argentina. Principalmente este último ponto porque, ao que tudo indica, lá também os oligarcas da grande mídia não admitem qualquer restrição aos seus poderes e privilégios e tendem a acusar quem tenta restringi-los como “inimigo da liberdade”. 

Menem e Domingo Cavallo
Kirchner assumiu um país arrasado depois de 10 anos de neoliberalismo selvagem da dupla Carlos Menem-Domingo Cavallo. A crise deixou o PIB em queda livre (quase 20% em dois anos), com uma dívida externa que representava nada menos que 160% do PIB, o desemprego superando os 20% e quase 50% da população do que já foi o país mais rico da América do Sul abaixo da linha de pobreza. O esgarçamento econômico levou à implosão do sistema político e cinco presidentes se sucederam entre 1999 e 2002. No poder, Kirchner negociou a saída da moratória com os credores internacionais. Impulsionado pela expansão das commodities, a economia argentina voltou a crescer, a taxas de 8% ao ano, o desemprego caiu para 10% e os pobres hoje são 30% - ainda um escândalo para padrões argentinos. O importante é que Kirchner fez um desvio de rota para um novo desenvolvimentismo, enterrando o ciclo menemista-cavallista.

Os facínoras Emilio Massera (à esq.) e Jorge Rafael Videla 
Mas o grande feito de Néstor Kirchner foi o resgate democrático da Argentina. As feridas de um país traumatizado por uma ditadura militar facínora (cerca de 30 mil “desaparecidos” entre 1976-1983), que tinham começado a cicatrizar com os processos contra os militares nos anos 1980, foram reabertas com a “lei de obediência devida”, de Raúl Alfonsín, e o indulto de Carlos Menem em 1990 aos comandantes. Incorporando a bandeira de grupos de direitos humanos como as Madres de la Plaza de Mayo, Kirchner reforçou a decisão da Justiça de enterrar a “lei de obediência devida” e anular o indulto. Assim, assassinos psicopatas como o ex-general-presidente Jorge Rafael Videla, o almirante Emílio Massera e o capitão de corveta Alfredo Astiz voltaram à barra dos tribunais e às prisões – ainda que domiciliares, no caso de alguns decrépitos.
Cristina Kirchner


Poucos países fizeram tão completa lavagem de roupa suja. As manifestações de apreço por ocasião da morte de Kirchner mostram que os cidadãos argentinos compreenderam o legado deixado pelo último líder peronista. A presidente Cristina Kirchner tem pela frente o desafio de impulsionar este compromisso democrático, aliado ao projeto desenvolvimentista. Não é tarefa fácil, mas, ao contrário do que muitos pensam, ela não tem vocação para Isabelita Perón, que jogou a Argentina no abismo do Armagedon depois da morte do marido-presidente.   

Don't cry for me, Argentina (Sinead O'Connor)

Um comentário:

  1. Agora a presidenta tem que provar e honrar sua competência.Espero que o país siga crescendo, a America Latina tem que dar um tapa de pelica no resto do mundo que se diz superior, sinceramente acho que não vai demorar muito...

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