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sábado, 2 de outubro de 2010

JORNALISMO NA ERA DIGITAL: ELEMENTOS PARA UM DEBATE

A discussão da mídia social ganhou nova dimensão com o caso do vazamento de informações confidenciais sobre as guerras do Afeganistão e no Iraque, em julho, publicadas no site Wikileaks. A divulgação dos vídeos sobre as práticas brutais do Exército americano, como o massacre de civis em Bagdá, repercutiu na mídia tradicional e as denúncias foram publicadas pelo Guardian, New York Times e pela Der Spiegel. O professor Christian Christensen, da Universidade de Uppsala, na Suécia, escreveu no Le Monde Diplomatique que o vazamento do Wikileaks derrubou três mitos da era digital: 1) As mídias sociais, cujo conteúdo é produzido também por quem as utiliza, têm um poder maior do que a mídia tradicional; 2) A internet profilera nas cinzas do Estado-Nação ; 3) O jornalismo tradicional está morto e enterrado. 

McLuhan
O primeiro equívoco estaria em tentar explicar o impacto da repercussão dos massacres ao fato eles terem sido divulgados pela web. Mas não é bem assim, explica o professor sueco. À diferença das mídias sociais - YouTube, Twitter, Facebookl ou a blogosfera -, o Wikileaks submete qualquer documento destinado à publicação a um rigoroso processo de verificação. Portanto, a influência do site se deve não tanto à tecnologia (o suporte, como se diz) utilizada, mas à confiança dos leitores na autenticidade dos documentos disponíveis para consulta. Isso significa dizer, acrescento eu, que, ao contrário do que afirmava o visionário Marshall McLuhan, O MEIO NÃO É, NECESSARIAMENTE, A MENSAGEM. Pelo menos neste caso.

O segundo mito a que alude Christensen é o discurso que glorifica a internet por expressar o mundo em que vivemos, sem fronteiras ou barreiras nacionais. O Wikileaks seria o primeiro veículo de imprensa alheio a qualquer poder estatal. Mas é justamente o contrário: o site tem sua base na Suécia, que tem um grande nível de proteção do anonimato das fontes. E os documentos destinados ao site passam pela intermediação de servidores da Bélgica, que também tem leis rigorosas de proteção às fontes. "Se é verdadeiro que a estrutura do Wikileaks foi pensada para contornar certas legislaçãoes nacionais, ela também é destinada a tirar vantagem das leis de outros países", diz Christensen.

Massacre no Iraque denunciado pelo Wikileaks
Finalmente, é uma falácia a ideia de que as mídias sociais decretaram a morte do velho e bom jornalismo investigativo. O episódio do Wikileaks mostra justamente o contrário. Semanas antes de divulgar na internet os documentos sobre a guerra do Afeganistão, o site enviou-o a dois grandes jornais e uma revista de grande público internacional (o britânico The Guardian, o americano The New York Times e a alemã Der Spiegel). Se tivessem colocado diretamente on-line, os meios de comunicação mundiais teriam se precipitado sobre as informações, criando um caos de análises dispersas e confusas. "A hipótese da morte do jornalismo e do desaparecimento do Estado-Nação incorrem no mesmo equívoco ao misturar evolução e eliminação. As circunstâncias e o sucesso da difusão dos documentos sobre a guerra no Afeganistão mostram que o jornalismo 'tradicional' não perdeu sua utilidade. O que mundou nos últimos 20 anos foi a natureza do papel desempenhado pelo jornalista, que deve agora levar em conta o manejo da informação em novos meios", finaliza o prof. Christensen.      

Umberto Eco
IEDs attacks from Wikileaks Afghanistan War Logs


Wikilieaks Afghanistan "War Diary"


Parece que começamos a romper a dicotomia entre apocalípticos e integrados de que fala Umberto Eco.     

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