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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A REVOLUÇÃO SERÁ TWITTADA

O regime do ex-presidente da Tunísia, Zine el Abidine Ben Ali, era o queridinho dos mercados e dos governos da Europa e dos EUA. Queridinho porque, sob uma democracia de fachada, ele acabou com a economia estatizada que herdou do pai da pátria, Habib Bourbigua, e iniciou um processo de privatização selvagem, ao estilo pós-soviético. A família Trabulsi, da mulher de Ben Ali, era uma das grandes beneficiárias da cleptocracia instalada em Túnis, controlando bancos, centros comerciais, cadeias de rádio, concessionárias de automóveis e imóveis. "As grandes empresas passaram para muito poucas mãos, as dos Trabelsi e a de outros grupos próximos à família do presidente e do partido do governo. Expropriaram empresas alegando o interesse nacional para dá-las à família do presidente. Agora estão especulando;compram empresas a baixos preços e as revendem com enormes lucros, mas sem redistribuição, como acontecia antes. [...]", diz uma acadêmica tunisiana ao jornal espanhol El País.

O modelito começou a ruir com a crise de 2008, que impactou violentamente a economia tunisiana, particularmente nos setores de turismo, têxtil e outros com baixo valor agregado. O desemprego chegou a 13% da força de trabalho; mas cerca de 30% dos jovens não encontram emprego; essa porcentagem se eleva a 60% entre os que têm diplomas universitários.

A grande repercussão pela imolação do jovem Mohamed Bouazizi, em protesto por não conseguir renovar o registro de sua banca de frutas, desencadeou a onda de manifestações de jovens, à margem de qualquer organização política. Desacreditados, os partidos de oposição e o sindicato único foram a reboque do movimento. E, desta vez, "a revolução foi Twittada", como disse o professor egípcio Firas Alatraqchi: "O Twitter e o Facebook já eram o meio de contornar a censura, mas isso ganhou uma amplitute inesperada. A informação multiplicou-se. E o extraordinário é que as pessoas que não eram militantes entraram na dança, substituindo a sua foto de perfil no Facebook pela bandeira de luto ou ensanguentada", disse a historiadora Leyla Dakhli, especialista em mídia árabe. Sem as redes sociais, dificilmente o gesto de Bouazizi teria tido tanto impacto. Face ao silêncio da mídia tradicional, internautas postaram no YouTube cenas de policiais disparando contra os estudantes, usaram o Twitter e o Facebook para anunciar novos protestos e denunciar mais mortes. E até a rede Al-Jazira, do Qatar, ajudou a divulgar as imagens da repressão nas mídias sociais, mesmo depois de ter seu escritório fechado em Tunis. 


Fenômeno semelhante de "guerrilha midiática", mas com menor abrangência, já havia ocorrido na Venezuela, quando da tentativa de golpe de Estado em 2002; na Espanha, depois do atentado terrorista pouco antes das eleições de 2004; no Irã, nas eleições de 2009; e no Equador, durante a tentativa de golpe contra Rafael Correa, ano passado. Estaremos diante de um novo paradigma de mobilizações, insurreições e, quiçá, de revoluções?         

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