Jean-Claude Duvalier à epoca em que era ditador vitalício do Haiti |
Pobre Haiti! Não bastassem a tragédia social (nunca vi país tão miserável), o terremoto, o caos político, o (ou a) cólera e agora a volta desse salteador assassino chamado Jean-Claude Duvalier, conhecido como Baby Doc. Ele foi o herdeiro da tirania cleptomaníaca de seu pai, François Duvalier, o Papa Doc, que instaurou um reino de terror dominado por sua guarda pretoriana, os tontons macoutes (bichos papões na língua créole). Em 1971, com apenas 19 anos, Baby Doc assumiu a presidência vitalícia do Haiti e logo recebeu o apoio da administração Nixon, interessada em prestigiar aliados anticomunistas.
Papa Doc e Baby Doc |
Deposto por um golpe militar em 1986, Jean-Claude Duvalier fugiu com a mulher para a Cote d'Azur, onde viveu nababescamente até que o divórcio o deixou depauperado. Jamais foi incomodado por organismos internacionais como a Interpol, que se mostrou expedita em prender o cineasta Roman Polanski e Julian Assange, o inventor do WikiLeaks.
A violência institucionalizada e a corrupção que levaram ao colapso do Estado haitiano foram em grande parte obra da dinastia Duvalier. Agora, o crápula se hospeda num hotel luxuoso na parte nobre de Port-au-Prince e, embora indiciado por corrupção, está pronto para voltar a ter influência política sobre aquele povo infeliz. Povo que um dia, mais de 200 anos atrás, ousou ser livre (o Haiti fez a primeira rebelião escrava vitoriosa das Américas, com Toussaint L'Overture e Jean-Jacques Dessalines) e paga o preço até hoje de tanta ousadia. Tragédia expressa nos versos de dois grandes poetas haitianos contemporâneos, Rodney Saint Éloi e Emmelie Prophéte:
três palavras por anúncio de uma tragédia: cidade morte súbita. (...)
minha cidade amnésica está morta como ontem, sem história, sem naufrágio, ao pé de um mar agonizante na caligem do vento"
(Rodney Saint Éloi)
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"Recorda-te um dia
desta cidade despedaçada
entre o barulho a besteira e a dor.
(...)
A loucura se tornou útil.
Dedicamo-nos a desenhar
portas de saída.” (Emmelie Prophéte)
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