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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

UM BRASILEIRO INJUSTIÇADO

O Marechal do Ar Casimiro Montenegro Filho (1904-2000) é um dos personagens históricos mais esquecidos e injustiçados do Brasil. Pioneiro do Correio Aéreo Nacional (CAN), ele foi o responsável pela criação do CTA (Centro Tecnológico da Aeronáutica, hoje Centro Tecnológico Aeroespacial) e do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), que concebeu baseado na experiência do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Numa época em que o Brasil importava quase tudo, Montenegro defendia que o país se convertesse em uma potência aeronáutica mundial.

Para viabilizar esse sonho, o então tenente-coronel Montenegro teve que enfrentar um amigo e colega de longa data, ninguém menos que Eduardo Gomes, contumaz reacionário, apesar de ter participado dos levantes tenentistas de 1922 e 1924 e da Revolução de 1930. Para Montenegro, o CTA/ITA deveria ser um celeiro de cérebros para o país, mas Eduardo Gomes achava que o complexo deveria se converter em um mero centro técnico de apoio e manutenção da FAB. Casimiro venceu a queda de braço e abriu caminho para transformar o CTA/ITA num dos mais respeitados centros mundiais de tecnologia, inovação e conhecimento.

O local escolhido para sediar o CTA/ITA foi São José dos Campos, pela proximidade com a capital. Mas Getúlio Vargas tinha sido derrubado em 1945, antes de assinar o plano de criação do futuro Centro Tecnológico da Aeronáutica-ITA. Segundo Fernando Moraes, autor de uma biografia de Montenegro, o general Eurico Gaspar Dutra, que derrotou o brigadeiro Eduardo Gomes na eleição presidencial de 1946, implicou com o nome do arquiteto que ganhou a concorrência para a construção do CTA: o comunista Oscar Niemeyer. Casimiro Montenegro deu um jeitinho: “O senhor arranje alguém de sua confiança para assinar o contrato em seu lugar com o Ministério da Aeronáutica e o resto é por minha conta”.

Montenegro não caiu na tentação imediatista de implantar ele mesmo a indústria aeronáutica, preparando terreno para que outros pudessem fazê-lo. Seu sonho se materializaria depois de ele ter sido afastado da linha de frente, em 1969, com a fundação da Embraer, empresa nascida de uma costela do CTA/ITA.

Montenegro sofreria nas mãos da ditadura militar instaurada no país em 1964. Ocupando a direção do CTA desde sua criação em 1954, ele resistiu à instauração de uma comissão de inquérito para apurar denúncias e punir alunos e professores do ITA acusados de “subversivos” pela nova ordem. Amigo e colega do brigadeiro Márcio Mello e Souza, comandante do IV Comando Aéreo de São Paulo, Montenegro disse a ele pelo telefone: “Márcio, escute o que eu vou falar. Eu sou da mesma patente que você, colega de turma e um pouco mais velho de idade. De modo que, se você puser os pés aqui no CTA, eu te prendo!” Mesmo assim, tempos depois a comissão foi instalada e puniu professores e alunos. O brigadeiro Eduardo Gomes, nomeado ministro da Aeronáutica por Castello Branco em 1965, exonerou Montenegro da direção do CTA por motivos puramente político-ideológicos.

Montenegro morreu aos 95 anos completamente esquecido. E, com toda essa contribuição sua à indústria aeroespacial brasileira, o brigadeiro Eduardo Gomes é que é o patrono da Aeronáutica...

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