“Temos dois terrores, a lembrança do passado e o medo do futuro. Pelo menos um, a lembrança do passado, é anulado pela catarse de passá-lo para o papel”
(Pedro Nava)
“O que há de terrível na vida mundana é a perda de tempo – a troca inútil de visita, jantares e almoços de cortesia, as obrigações de missas de sétimo dia, de casamentos, ação de graças, bodas de ouro e prata. Velórios. Tudo isto é motivo de encontros tantas vezes desagradáveis, com outros que não os verdadeiros amigos, sobretudo nas casas cujos anfitriões fazem inevitavelmente ímpares convidando para refeição e pondo juntos, à mesa, pessoas que reciprocamente teriam vontade de se verem - uma no enterro da outra. Isto é o que fez Proust dizer com impaciência e até ferindo os verdadeiros amigos que “ ...l´artiste qui renonce à une heure de travail pour une heure de causerie avec un ami , sait qu´il sacrifie une realité pour quelque chose qui n´existe pas...”
(Pedro Nava, O Círio Perfeito)
Quando morto estiver meu corpo
evitem os inúteis disfarces,
os disfarces com que os vivos,só por piedade consigo,
procuram apagar no Morto
o grande castigo da Morte.
Não quero caixão de verniz
Nem os ramalhetes distintos,
Os superfinos candelabros
E as discretas decorações.
Eu quero a morte com mau gosto!
(...)
E descubram bem minha cara:
Que a vejam bem os amigos.
Que a não esqueçam os amigos
E ela lance nos seus espíritos
A incerteza, o pavor, o pasmo...
E a cada um leve bem nítida
A idéia da própria morte.
(...)
Meus amigos! tenham pena,
Senão do morto, ao menosDos dois sapatos do morto!
Dos seus incríveis, patéticos
Sapatos pretos de verniz.
Olhem bem estes sapatos
E olhai os vossos também.
(Pedro Nava, O Defunto)
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