O jornalista e escritor Darcus Howe |
É interessante verificar a percepção da grande mídia sobre os conflitos que estão ocorrendo em Londres e várias cidades da Inglaterra depois que um jovem foi assassinado pela polícia. Trata-se, segundo os jornalões e televisões, de distúrbios promovidos por arruaceiros, “rebeldes sem causa”, jovens que estariam saqueando por saquear, como se não houvesse nenhuma motivação social ou política por trás das manifestações. Se os distúrbios ocorridos nos banlieues (subúrbios) em Paris em 2007 podiam ser atribuídos às agruras sofridas pelos imigrantes na França, os da Inglaterra são classificados como simples “tumultos” porque neles também estão envolvidos não apenas imigrantes, mas jovens ingleses brancos que, supostamente, não teriam do quê reclamar. Como se a razzia social dos anos Thatcher/Blair não tivesse deixado esgarçado o tecido social do Reino Unido. Puro niilismo, portanto.
Manifestantes ingleses em confronto com a polícia |
Nem a BBC escapou dessa visão preconceituosa e classista. Neste vídeo, uma entrevistadora da emissora pública, Fiona Armstrong, fica furiosa ao perceber que o entrevistado - o escritor, jornalista e militante de direitos humanos Darcus Howe – não tinha a mesma opinião do que ela de condenação aos “tumultos”. Howe diz que, se a polícia e o governo britânico tivessem ouvido os jovens, brancos ou negros, saberia que eles estavam no limite com a atuação arbitrária dos policiais. Em seguida, sempre interrompendo o entrevistado, Fiona diz que o próprio Howe tinha participado de tumultos no passado. “Nunca participei de tumultos. Eu estive em manifestações que terminaram em conflito. Tenha respeito por um velho negro das Antilhas”, disse o jornalista, que nasceu em Trinidad Tobago.
Depois do episódio, bombardeada por protestos, a BBC pediu desculpas ao público pela maneira como a âncora tratou Howe. Será que a Globo ou a Fox News teriam a mesma postura?
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