Meir Dagan, chefe do Mossad |
Uma das mais surpreendentes revelações dos documentos secretos provenientes das embaixadas americanas pelo mundo que foram divulgados pelo site Wikileaks é a de que o Mossad (serviço de inteligência externa israelense) propunha aos EUA articular um golpe militar para derrubar o regime dos aiatolás no Irã. O plano era um programa em cinco fases com o objetivo de impedir a qualquer custo que Teerã obtivesse êxito no desenvolvimento de seu programa nuclear - o que lhe daria condições de produzir a bomba atômica, quebrando o monópolio que Israel mantém sobre a arma de destruição total na região. A proposta foi apresentada em 2007 pelo general Meir Dagan, chefe do Mossad, ao então subsecretário de Estado americanos para assuntos políticos, William Burns.
É impressionante como a mentalidade de caserna de Israel atingiu tal paroxismo que provocou uma abissal decadência do nível político dos militares israelenses. Antigamente, o país dispunha de líderes militares que, mesmo sendo "duros" no campo de batalha, se revelaram estadistas realistas, capazes de entender o inimigo e a complexidade do conflito, como Moshe Dayan e Yitzhak Rabin. Hoje, dominam a cena israelense tipos messiânicos como esse Dagan, que além de tudo parece ter fugido das aulas de História ou saído da famigerada Escola das Américas - aquela instituição que os EUA tinham no Panamá nos tempos da Guerra Fria que ensiva técnicas de contra-insurgência aos milicos latino-americanos. Uma proposta doidivanas dessas supõe um desconhecimento atroz do passado histórico do Irã.
Em 1953, instigado pelos britânicos, os Estados Unidos patrocinaram, por meio da recém-criada CIA (Agência Central de Inteligência), um golpe de Estado no Irã contra o então primeiro-ministro nacionalista Mohammad Mossadegh, que havia expropriado a British Petroleum e nacionalizado a indústria petrolífera do país. Em seu lugar, foi reinstaurado o poder do xá Reza Pahlevi, um testa de ferro dos interesses ocidentais que governou e tentou modernizar o Irã a ferro e fogo. A memória desse golpe contra Mossadegh marcou o país e alimentou ressentimentos contra os americanos, que explodiriam décadas depois, em 1979, quando a ditadura do xá foi derrubada por um grande movimento de massas, que depois seria instrumentalizado pelo clero xiita liderado por Khomeini
Revolução Islâmica no Irã em 1979 |
Mossadegh |
O analista americano Chalmers Johnson, morto este mês, retomou um conceito que a velha escola de espionagem emprestara dos militares - Blowback - e o redefiniu para explicar o processo de "bumerangue" provocado pelas "operações encobertas" - ou não tão encobertas - dos EUA em vários países do Terceiro Mundo ao longo da Guerra Fria; em suma, ele tentou entender como essas ações acabaram inevitavelmente se voltando contra os próprios interesses americanos. Irã, Nicarágua, El Salvador, China, Vietnã e Camboja são apenas alguns exemplos. Que um chefe do Mossad desconheça tudo isso a ponto de propor a repetição de ações desse tipo mostra a condição lastimável do atual establishment israelense.
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