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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

1935: A REVOLUÇÃO FALTOU AO ENCONTRO

Soldados rebelados do III Regimento de Infantaria (Rio)
Há 75 anos, entre os dias 23 e 27 de novembro, ocorria o levante armado da Aliança Nacional Libertadora (ANL) que a direita apelidou de “Intentona Comunista”. A ANL era uma organização antifascista e anti-imperialista de massas e seu fechamento pelo governo de Getúlio Vargas deu ao Partido Comunista do Brasil (PCB), um de seus integrantes, a falsa sensação de que o país vivia uma situação pré-revolucionária. Liderada pelo partido e com apoio da III Internacional, a rebelião eclodiu basicamente em quartéis (Natal, dia 23; Recife. 25  e Rio de Janeiro, 27), seguiu o padrão clássico de "putsch" militar e foi rapidamente derrotada pelas forças legalistas. Os combates mais dramáticos ocorreram no Rio de Janeiro, onde os insurretos tentaram tomar o III Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, a Vila Militar e a Escola de Aviação do Campo dos Afonsos. Em todo o país, cerca de 120 soldados sublevados e 28 legalistas morreram. Segundo alguns historiadores, o levante de 1935 foi a última manifestação do tenentismo, movimento de oficiais subalternos que, nos anos 1920, se insurgiu contra a corrupção e o voto de cabresto. Os tenentes foram derrotados em 1922 e 1924, criaram a lendária Coluna Prestes e chegaram ao poder com a Revolução de 1930. Desencantada com Vargas, uma ala do tenentismo fundou a ALN para enfrentar o integralismo, versão tupiniquim dos camisas negras fascistas de Benito Mussolini. Mais à esquerda, os tenentes dissidentes de 1930, no entanto, continuavam prisioneiros de arcabouço teórico marcial. O dirigente comunista Luís Carlos Prestes, por exemplo, ex-capitão do Exército, planejou a revolta unicamente em unidades militares, esperando que o povo aderisse a ela espontaneamente. Um foquismo avant la lettre.

Soldados rebeldes são conduzidos à prisão em Ilha Grande

“O programa da ANL continuava vago como sempre fora - característica dos tenentes - e cheio de ambiguidades. Por exemplo, a ANL apresentava um programa de governo, mas não se colocava a questão do poder [...] Esta posição era reflexo exatamente da proposta ideológica dos tenentes: nacionalista e democrática, julgava poder transformar o país econômica e socialmente sem modificar o regime. Tal como agiram – os mesmos, por sinal – no início dos anos 20. O descompasso entre a proposta ampla e a luta armada para alcançá-la é justamente uma característica dos tenentes, que só acreditavam em levantes de quartel", diz a historiadora Marly Vianna, autora do livro Rebeldes de 1935.

Luís Carlos Prestes preso em 1936
Para Getúlio Vargas, o levante foi o pretexto para desencadear uma selvagem repressão. Prestes foi preso em 1936 com sua mulher, Olga Benário, comunista alemã de origem judaica. Ela estava grávida e mesmo assim foi deportada para a Alemanha nazista, onde morreria num campo de concentração em 1942. Prestes amargaria nove anos de prisão. O dirigente alemão Harry Berger (Arthur Ernest Ewert), da III Internacional, enlouqueceria na prisão em conseqüência das torturas da polícia de Filinto Müller, nosso aprendiz de Himmler e patrono do torcionário Sérgio Fleury. E, durante décadas, a direita criou o mito de que os comunistas tinham covardemente assassinado soldados legalistas “enquanto dormiam” – calúnia ironicamente desmentida por um dos próceres da ditadura militar de 1964 e anticomunista convicto, o coronel Jarbas Passarinho.

O III RI, na Praia Vermelha (RJ)

"O levante [...], apesar da derrota, também deixou um saldo positivo. [...] Não se pode julgar um movimento como positivo apenas quando ele é vencedor, ou desprezaríamos a Comuna de Paris, a Revolução de 1905 na Rússia, os movimentos revolucionários do início dos anos 20, na Europa Central, a Guerra Civil Espanhola, para citar algumas situações históricas [...] Além da luta antifascista, anti-imperialista e da experiência da organização popular, o levante deixou para o movimento operário e socialista do Brasil a importância do exemplo", diz Marly Vianna.

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