Em homenagem à nossa presidente, cujos ancestrais paternos eram búlgaros, começo a fazer aqui um pequeno levantamento de alguns de seus conterrâneos famosos.
|
Georgi Dimitrov |
Georgi Dimitrov (1882-1949), líder comunista, dirigente da III Internacional (Komintern, a internacional comunista) e por fim premiê da Bulgária. Resistiu ao golpe de Estado na Bulgária em 1923 e foi obrigado a fugir para a Iugoslávia, sendo condenado à morte
in abstensia. Acabou indo para a União Soviética, onde viveu até 1929. Foi deslocado para Berlim para chefiar a seção Europa Central do Komintern. Ganhou notoriedade em 1933, quando foi preso com outros dois búlgaros sob a falsa acusação de ter organizado o incêndio do Reichstag (Parlamento). Dimitrov desmoralizou o julgamento e irritou líderes nazistas como Goering e Goebbels no Tribunal de Leipzig ao desmontar provas fabricadas, defender a posição dos comunistas e acusar os próprios nazistas de terem provocado o incêndio. O julgamento teve repercussão internacional e os nazistas, ainda engatinhando, foram obrigados a absolver e libertar Dimitrov.
(Stálin certamente tomou precauções para não repetir os erros dos nazistas nos Processos de Moscou, de 1936-1938).
|
Léon Blum e a Frente Popular na França (1936) |
Dimitrov tornou-se secretário-geral da III Internacional em 1934 e conduziu a mudança da linha politica ultraesquerdista então vigente no organismo, a linha do "social-fascismo", que não reconhecia diferenças entre social-democratas e nazistas e foi em grande parte responsável pela vitória de Hitler. No VII Congresso do Komintern, em 1935, Dimitrov apresentou a proposta de formação de Frentes Populares, coalizões de forças antifascistas (comunistas, socialistas e democratas). Governos com esse caráter ganharam eleições na Espanha e na França (1936) e no Chile (1938) e essa política orientou os PCs durante a Segunda Guerra e por um longo período. A ideia de Frente Popular posteriormente daria origem a movimentos reformistas como o "Compromisso Histórico" do PCI com a Democracia Cristã na Itália e o Eurocomunismo, na Europa ocidental, uma tentativa de transformar alguns PCs em "terceira via" entre a social-democracia e o bolchevismo. Era a utopia da revolução por via democrática, que levou Salvador Allende ao poder no Chile em 1970 e foi tragicamente afogada em sangue em 11 de setembro de 1973.
|
Berlinguer, um dos pais do Eurocomunismo |
Em 1946 Dimitrov se tornou primeiro-ministro da Bulgária, embora tivesse cidadania soviética. Tentou formar, com o dirigente iugoslavo Josip Broz Tito, uma Federação Balcânica que unisse a Iugoslávia, a Macedônia e a Bulgária, mas as negociações fracassaram. Tito acabaria sendo excomungado pelo movimento comunista internacional e a ideia da federação foi um pretexto para condená-lo - ao qual o próprio Dimitrov depois aderiu. O dirigente búlgaro sempre foi um fiel stalinista e instaurou um regime repressivo na Bulgária, mas seria um erro julgá-lo à luz das condições históricas atuais. Até a morte de Stálin, em 1953, muitos dos que depois seriam considerados reformistas - como Kruschóv e Imre Nagy - também eram stalinistas. Dentro das circunstâncias históricas - e o homem é ele e sua circunstância, segundo Ortega y Gasset - Dimitrov desempenhou um papel central na luta contra o fascismo. E a a ideia de Frente Popular inspirou tentativas de transformação social como o primeiro governo de François Mitterrand na França e os da Concertación no Chile.
Parabéns pela postagem.Muito bom o texto.Quando vamos ter uns "Dimitrovs da vida" hein?!
ResponderExcluir