ELIAS CANETTI (1905-1994) - Prêmio Nobel de Literatura de 1981, nascido numa comunidade de judeus sefaradis da Bulgária, Canetti escrevia principalmente em alemão. Morou em Viena e depois em Londres. Embora tenha escrito obras seminais como Auto de Fé, A Consciência das Palavras, A Língua Absolvida, Uma Luz em meu Ouvido, sua maior contribuição, a meu ver, é sociológica ou antropológica: Massa e Poder (Masse und macht, 1960), livro em que ele estuda o comportamento das massas e o associa à neurose. Esse estudo monumental foi determinado por um acontecimento na Áustria: em 1927, Canetti, ele mesmo um homem de esquerda, viu-se preso numa multidão de manifestantes que queimaram o Palácio da Justiça em Viena.
Para Canetti, o indivíduo isolado que teme o contato humano muda radicalmente seu comportamento quando se integra à massa. Os indivíduos que a compõem crêem-se dotados de uma força que ultrapassa seus limites. A massa os supera e se torna um fenômeno com vida própria. Ela é dotada de características específicas, como o impulso de destruição, o sentimento de perseguição e o pânico. A massa também é vulnerável e passível de domesticação. Na destruição, a multidão encontra algo que a encanta. Um prazer primitivo acompanha a massa, o prazer do crescimento e da expansão. A massa aspira a destruir locais fechados e os limites por eles estabelecidos. A massa é centrípeta: ninguém deve ficar de fora, todos devem ser atraídos. E ela também povoa o espírito dos crentes: mortos e santos formam uma multidão, substrato das religiões. No século das massas, Canetti a compreendeu melhor do que Freud, Reich, Mao, os frankfurtianos e os existencialistas.
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