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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A DITADURA DE PEDRA

A morte do dissidente cubano Orlando Zapata Tamayo depois de 85 dias de greve de fome é mais uma demonstração do caráter brutal e reacionário da ditadura castrista. E o silêncio ensurdecedor de boa parte da esquerda latino-americana durante todo esse tempo em que ele protestava contra suas péssimas condições carcerárias é sintomático. Zapata – o nome é evocativo! – era operário e fazia parte dos 78 dissidentes condenados em 2003 a penas de seis a 28 anos de prisão. O “crime” que eles cometeram foi o de ter trabalhado por uma transição pacífica e democrática em Cuba. E eles o fizeram de maneira aberta e legal, não clandestinamente, nem em aliança com os "gusanos" de Miami. Integram o grupo o poeta e jornalista Raúl Rivero e os economistas Oscar Espinosa Chepe e Marta Beatriz Roque, condenados a 20 anos de prisão, e um dos organizadores do Projeto Varela, Héctor Palacios, condenado a 25 anos. O Projeto Varela colheu legalmente onze mil assinaturas em favor da democratização pacífica de Cuba. Orlando Zapata era considerado "prisioneiro de consciência" pela Anistia Internacional.
A questão não é, como insiste a mídia de direita, a posição do Itamaraty e do governo brasileiro em relação a Cuba. As relações internacionais são, por excelência, o lugar do realismo político; então, se for do interesse do Estado nacional negociar com Ahmadinejad, Netanyahu, com o papa ou com Satanás, assim deve ser feito. O problema é quando partidos, líderes e a intelligentsia de esquerda, mesmerizados pela mitologia da Revolução Cubana, fecham os olhos às barbaridades da ditadura castrista em nome de seu suposto papel na luta “anti-imperialista”. Ora, ou se aceita que a democracia é um valor universal - embora ela possa ser ampliada -, como faziam os comunistas italianos, ou vamos continuar contemporizando com tiranias rotuladas de "progressistas". E dando, de bandeja, argumentos para a direita reacionária.
Felizmente, essa postura não mais é unânime, como mostra o manifesto assinado por intelectuais de esquerda, quando os dissidentes foram condenados, em 2003:
“Se o projeto [Varela] se inscreve, e por boas razões, contra as manobras de auto-eternização do poder autocrático, seria bom lembrar que ele também contraria a política dos defensores do embargo e os planos nada pacíficos da imigração de extrema-direita. Apesar das aparências, denunciar a violência dos poderes despótico-burocráticos de direita ou de pseudo-esquerda não leva água para o moinho da política expansionista dos falcões de Washington. A erradicação das ditaduras de direita ou de pseudo-esquerda está longe de ser a verdadeira razão da política dos ultra, e, mais do que isso, a existência das ditaduras conforta essa política; tanto no plano ideológico, como no plano prático. Viu-se como é impossível organizar a resistência popular contra uma agressão externa (a fortiori, quando esta se faz em nome da ‘‘democracia’’) lá onde não existe um verdadeiro governo democrático. A condenação dos dissidentes cubanos é tão ilegítima quanto o tratamento que dá o governo americano aos seus prisioneiros em Guantánamo, tratamento contra o qual também protestamos”.
Entre os signatários estavam Ruy Fausto, Renato Janine Ribeiro, Gildo Marçal Brandão (morto recentemente), Caterina Koltai, Luis Felipe Alencastro, Olgária Mattos e Claudio Willer

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