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quarta-feira, 2 de março de 2011

O VELHO E BOM HORACIO


Horacio González, sociólogo marxista admirador de Nietzsche e...Evita
 Conheci Horacio González quando estudava sociologia na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, entre 1979 e 1982. Ele era professor de Filosofia, intelectual brilhante, marxista de cabeça aberta, bom papo, leitor de Nietzsche e... simpatizante dos Montoneros, a extrema esquerda do peronismo, cujas origens eram católicas ultramontanas. Certa vez, eu lhe disse que não conseguia compreender como uma pessoa tão sofisticada como ele poderia ser próxima dos Montoneros e, pior, se dizer admirador de Evita Perón. Para mim, então jovem estudante metido a revolucionário, ser peronista representava um monumental atraso político e ideológico (continuo achando isso, mas matizei um pouco meu julgamento. Na época, eu estava muito influenciado pelas leituras críticas do “populismo latino-americano” feitas pelos uspianos - Weffort, FHC, Ianni. Hoje, acho que esses caras não entenderam nada ou quase nada). Calmamente, Horacio me explicou que esse sentimento não era algo definível em termos cartesianos, tinha muito a ver com o pathos, a paixão argentina. Torci o nariz, mas depois ele escreveu uma pequena biografia de Evita para a coleção Primeiros Passos, da Brasiliense. O texto era apaixonante e persuasivo e acabei entendendo a posição dele, embora politicamente eu não estivesse convencido.
Escritores têm duas facetas - o que não quer dizer,
 necessariamente, que tenham duas caras 

Nós, alunos da “socióca”, amávamos o Horacio. Mas depois do fim da ditadura (lá), em 1983, ele acabou voltando para sua Argentina querida. Nunca mais ouvi falar dele. Hoje, lendo o site operamundi, descobri que Horacio é diretor da Biblioteca Nacional da Argentina. E que se envolveu numa polêmica a respeito da vinda do escritor peruano Mario Vargas Llosa para abrir a 37ª Feira do Livro em Buenos Aires. Vários intelectuais, entre eles o Horacio, criticaram a escolha. Segundo o operamundi, “o diretor da Biblioteca Nacional foi uma das vozes mais contundentes contra a opção pelo escritor e tomou a dianteira com um e-mail destinado ao presidente da Câmara Argentina do Livro (CAL), Carlos De Santos, com o qual pediu que escolha fosse reconsiderada. Segundo ele, muitos autores argentinos podem representar ‘um horizonte comum de ideias, sem o messianismo autoritário’ de Llosa ‘dos círculos mundiais da direita mais agressiva’. Em entrevista ao jornal Tiempo Argentino, González afirmou que ‘o convite a Vargas Llosa é uma ofensa à cultura argentina’. Mesmo após ter afirmado apreciar a literatura do peruano, o diretor afirmou que ‘existem dois Vargas Llosa: o grande escritor que todos festejamos e o militante que não pestaneja nem um segundo para atacar os governos populares da região’".

Cristina, postura democrática
O site informa também que a presidenta Cristina Kirchner pediu ao Horacio que reconsiderasse seu protesto contra o escritor peruano. “Por meio de uma carta destinada a Gustavo Canevaro, presidente da Fundação El Libro, organizadora da feira, González afirmou que recebeu uma ligação da chefe de Estado em que a mesma defendia ‘a substância, a forma e a pertinência do debate democrático em todos os planos de seu significado’. Segundo relata a carta, divulgada pelo chefe de gabinete do governo, Aníbal Fernández, Cristina pediu que o diretor retirasse seu protesto enviado anteriormente e afirmou que a discussão quanto ao protagonismo de Llosa em um dos eventos culturais mais importantes do país ‘não pode deixar a mínima dúvida da vocação à liberdade de expressão de ideias políticas na Feira do Livro, nas circunstâncias que sejam e tal como suas autoridades definiram’”. Ainda segundo o operamundi, “a resistência dos intelectuais simpáticos ao governo Kirchner se deve a recentes declarações do Nobel. Para o jornal italiano Corriere della Sera, o peruano afirmou: ‘Cristina é um desastre completo. A Argentina está conhecendo a pior forma de peronismo, populismo e anarquia. Temo que seja um país incurável’”.
A postura democrática da presidenta argentina contrasta com o preconceito oligárquico e direitista de Vargas Llosa. Por outro lado, eu entendo a posição do Horacio: trata-se de separar o escritor de sua obra, sem condenar uma pelo outro. Borges, Ezra Pound e Céline eram politicamente quase fascistas, mas isso não diminui o valor de suas obras literárias. Mas também não dá pra ignorar suas posições políticas. O Horacio, de qualquer forma, continua lutando o bom combate. Depois disso, li uma entrevista em que ele defende a Ley de Médios, que tanta urticária causa na grande mídia - que, lá como cá, é oligopólica e ciosa de seus privilégios.

Nestes anos todos, vi tanta gente que “amava os Beatles e os Rolling Stones” se transformar em algo próximo à Opus Dei que é muito bom saber que velhos amigos – ou no caso, professores – mantêm a coerência e a combatividade depois de tanto tempo.


veja o site operamundi:
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticia/CRISTINA+KIRCHNER+PEDE+QUE+DIRETOR+DE+BIBLIOTECA+NACIONAL+RETIRE+PROTESTO+CONTRA+VARGAS+LLOSA_10075.shtml

Intervenções recentes de Horacio González:




2 comentários:

  1. Curiosidad
    Casualmente buscaba la pequeña biografía de Evita que escribió para la colección Primeiros Passos, de la editora Brasiliense en la década de los 70s y que no leí, pero no la encontraba entre sus obras en la Wikipedia, entonces pensé que no sería el mismo que yo había conocido en São Paulo alrededor de 1979, en un departamento de un edifício alrededor de la confluencia entre la Avenida Paulista, la Rua da Consolação y la Av. Dr. Arnaldo; por ahí.
    Llegué allí mediante una pianista amiga, Zizí Moura Campos, para una visita social donde me presentarían un compatriota. Horacio y yo éramos muy jóvenes y aunque ni el ni yo lo dijéramos claramente, por causa de nuestras compañeras, que no sabíamos si eran circunstanciales, eramos exilados\escapados de la patria. Ahora me enteré que en esos años Horacio hacía un doctorado en Sociologia en la USP. Paralelamente yo hacía un doctorado en Biologia Celular y Molecular en la misma USP.

    El “Flaco”, Juan Carlos Pavoni, me presentó al Director de la Biblioteca Nacional, Horacio González durante un acto de Carta Abierta al aire libre en la terraza de entrada de la biblioteca, creo que en 2011; -ah si, apretón de manos, hola que tal-, pero nada mas porque estaba muy ocupado con muchos participantes. Me pareció una cara vagamente familiar, como tantas, pero no recordaba ni el nombre de aquel Horacio González.

    Pasados estos treinta y tantos años, hoy, viendo los videos de Carta Abierta alguna mención hubo y clic, fui a Google a ver quien era este Horacio González. Era el mismo.

    Jorge E. Moreira (el Pájaro)

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  2. En esa foto la presidenta Cristina es una mujer para un millón de cubiertos.... abrazos, Pájaro

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