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quarta-feira, 9 de março de 2011

A FREIRA QUE LEVOU D. PAULO A ENFRENTAR OS MILITARES


Madre Maurina Borges da Silveira
 A madre franciscana Maurina Borges da Silveira morreu no sábado dia 5 aos 84 anos. Em outubro de 1969, ela foi presa pela Operação Bandeirantes (Oban, núcleo de repressão militar que daria origem ao Doi-Codi), acusada de participar do grupo guerrilheiro Forças Armadas de Libertação Nacional (Faln). As suspeitas surgiram porque ela, então diretora do orfanato Lar Santana, em Ribeirão Preto, cedera uma sala para que Mário Lorenzato, militante da Faln, realizasse reuniões com estudantes. Com as prisões de vários deles, entre os quais Lorenzato, Maurina queimou o material deixado pelos jovens no orfanato. Ela foi presa por delegados locais e levada para o DOPS, onde seria torturada pela equipe do facínora Sérgio Paranhos Fleury. “Os estudantes valeram-se de sua boa fé, mas qualquer um perceberia a sua inocência. Menos os policiais”, comentou o bispo d. Angélico Sândalo Bernardino. Na época falou-se que a religiosa teria sido estuprada, o que ela sempre negou.

O caso levou o bispo de Ribeirão Preto a excomungar dois delegados, Renato Ribeiro Soares e Miguel Lamano, e motivou dom Paulo Evaristo Arns, tornado arcebispo metropolitano de São Paulo na mesma época, a se engajar na luta pelos direitos humanos no Brasil. Madre Maurina foi transferida para o Presídio Tiradentes e depois para o presídio feminino de Tremembé. Em março de 1970, ela foi uma das cinco prisioneiras políticas trocadas pelo cônsul japonês Nobuo Okuchi, seqüestrado por um comando da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Banida do Brasil, madre Maurina foi exilada no México.

Dom Paulo no velório de Vladimir Herzog
A crueldade da ditadura para com a religiosa não terminaria aí. Ela tinha pedido para voltar ao Brasil e responder ao processo no país. Em 1971, a própria Justiça Militar votou pelo fim de seu banimento. O ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, enviou parecer nesse sentido ao general Médici, o ditador de plantão. Nenhuma decisão foi tomada. Mas em 1976 Armando Falcão, o ministro da Justiça de Geisel, resolveu manter o banimento de madre Maurina. Ao que parece, ele se escudou nas anotações do general Carlos Alberto Fontoura, chefe do SNI de Médici: “O fato será explorado pelas esquerdas e pelo clero, dizendo que uma inocente foi presa injustamente”. Mais realista que o rei, o sr. “Nada a declarar” ignorou os “aspectos positivos” do fim do banimento citados pelo próprio SNI: “o de demonstrar ao povo o espírito de justiça que norteia a ação do governo”. Ele ateve-se ao temor de que poderia abrir “um precedente que poderá estimular o pedido de outros banidos para serem julgados no país”. Maurina só voltaria ao país em 1979 com a Anisitia, 14 anos depois de ter sido banida.

Cálice - Chico Buarque de Hollanda e Milton Nascimento

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