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domingo, 27 de dezembro de 2009

UM VERDADEIRO LIBERAL


No centenário de sua morte (17 de janeiro), Joaquim Nabuco (1849-1910) ainda é pouco conhecido no Brasil. O Estadão deste domingo publicou várias de suas cartas inéditas; pouco se fala, contudo, do ineditismo de suas posições políticas para a época. Nabuco é considerado - ao lado de André Rebouças - o patrono da reforma agrária no Brasil. O autor de Um Estadista do Império não desvinculava a abolição da escravatura da necessidade de "democratização do solo". Esse filho da aristocracia do açucar era um verdadeiro liberal e denunciava o liberalismo de fachada de sua classe. Nas palavras de Nabuco, não há outra solução possível para o mal crônico e profundo do povo senão uma lei agrária que estabeleça a pequena propriedade, e que vos abra um futuro, a vós e vossos filhos, pela posse e cultivo da terra. É preciso que os brasileiros possam ser proprietários de terra, e que o Estado os ajude a sê-lo [...] A propriedade não tem somente direitos, tem também deveres, e o estado de pobreza entre nós, a indiferença com que todos olham para a condição do povo, não faz honra ao Estado. Eu [...] não separarei mais as duas questões: a da emancipação dos escravos e a da democratização do solo. Uma é o complemento da outra. Acabar com a escravidão não nos basta; é preciso destruir a obra da escravidão”.
Visionário, Nabuco estava muito à frente de seu tempo. O fato de o autor de O Abolicionismo ter permanecido fiel à monarquia não lhe diminui os méritos. Mas a oligarquia agrário-exportadora brasileira adotou o caminho excludente, a chamada modernização conservadora, que aboliu a escravidão e substitituiu a mão-de-obra escrava pela de trabalhadores imigrantes, lançando a massa de ex-cativos na marginalidade. Por conta dessa opção, a bandeira da reforma agrária continua na agenda dos movimentos sociais cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco.

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