Pela primeira vez desde o fim da ditadura do general Augusto Pinochet, em 1990, a direita deve voltar ao poder no Chile, desta vez pela via democrática. Apesar da popularidade recorde da presidente socialista Michelle Bachelet (80%), o empresário Sebastián Piñera, de centro-direita, lidera as intenções de voto. Essa aparente contradição é a expressão de uma espécie de "fadiga de material" de duas décadas consecutivas de poder da Concertación, a coalizão de centro-esquerda que uniu adversários históricos (Democracia Cristã e Socialistas) para superar o traumático período ditatorial e reconstruir a democracia no país. Sintoma dessa fadiga é o fato de o candidato governista ser o ex-presidente Eduardo Frei, uma figura apática e sem nenhum carisma.
Se a eleição de Piñera se confirmar, será a consolidação da democracia no Chile: depois de acabar com o "entulho autoritário" da era Pinochet - como os senadores biônicos e a impossibilidade de o presidente da República mexer nos comandos militares -, a Concertación estará consagrando o princípio democrático de alternância no poder.
E Piñera não é um neopinochetista: em 1988, quando a ditadura achou que poderia se consolidar através de um plebiscito, ele foi uma das vozes da direita a lutar pelo "não" a mais um "mandato" para Pinochet. Na campanha atual, o empresário-político conseguiu inclusive irritar os setores mais reacionários da coalizão que o apoia ao incluir na sua agenda temas comportamentais caros à esquerda, mas que ainda são tabu num país conservador como o Chile - entre eles o direito da união civil homossexual e a pílula do dia seguinte.
Piñera também está conquistando o apoio da classe média baixa, um setor emergente que se sente marginalizado pelo governo da Concertación. Além disso, sua imagem de empresário bem-sucedido e empreendedor parece ter colado nesse setor da sociedade chilena.
Uma incógnita do provável futuro presidente são as relações entre negócios e política. Empresário mais rico do Chile - ele é proprietário da LAN-Chile -, Piñera até agora deu poucos sinais de que pretende separar suas atividades empresariais dos negócios do Estado.
Se isso ocorrer, o conflito de interesses será será inevitável. Teremos um Berlusconi andino?
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