A astúcia irracionalista
Claude Lévi-Strauss (pronuncia-se stráus, não strôss, como pedante e burramente disse a Folha) foi talvez o último grande intelectual do século XX. Ele marcou época por criar um novo paradigma, o estruturalismo, que dominaria a vida intelectual francesa - e por conseguinte, a do resto do mundo - durante os anos 60 e 70. Seu pensamento rompeu com outro paradigma francês, o existencialismo: enquanto que para este, na melhor tradição iluminista, "a existência precede a essência" e o homem está "condenado a ser livre" e é o único responsável pelos seus atos, para o estruturalismo os indivíduos dependem de regras e estruturas pré-existentes, que eles não dominam - como afirmavam Freud e até de um certo Marx (o da "maturidade", diria Althusser). Outra contribuição fundamental da antropologia de Lévi-Strauss é a noção de que não existem sociedades bárbaras e sociedades civilizadas; todas se equivalem.
Aí é que a porca torce o rabo. À primeira vista, esse pensamento é herdeiro do Iluminismo; na verdade, ele bebe na fonte do romantismo político ("contra-iluminismo" para alguns; irracionalismo, para outros) de Schiller, mas também de reaças como Bonald e De Maistre, para os quais não existe humanidade em geral, mas franceses, italianos e até persas, cada um com sua cultura específica e irredutível. Tal filosofia política relativista é transformada por Lévi-Strauss em antropologia - dita estrutural - para a qual nenhuma sociedade pode ser julgada por parâmetros ou valores universais. A consequência inescapável é que não se poderia falar em direitos humanos abstratos; em lugar deles, erguer-se-ia, soberano, o "direito dos povos". É uma armadilha intelectual para quem se pretende progressista; em sua teia se enredou ninguém menos que outro francês, Michel Foucault, que em 1979 saiu defendendo a Revolução Islâmica do Irã em nome de "valores anti-ocidentais". Até que os aiatolás começaram a fuzilar comunistas, homossexuais e apóstatas...
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