A visita oficial ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, é o mais recente pretexto para a mídia conservadora bombardear a política externa do Itamaraty. A crítica parte de constatações inegáveis: o Irã é uma teocracia que censura, prende, tortura e executa dissidentes; que oprime as mulheres; que pratica a pena de morte com frequência, até contra adolescentes e pessoas acusadas de adultério e de homossexualidade. Além disso, o presidente Mahmoud Ahmadinejad nega abertamente o Holocausto e prega que Israel seja "riscado do mapa". Mas o que mais parece incomodar a mídia bem-pensante é o fato de o Irã pretender enriquecimento de urânio eventualmente para ter condições de fabricar bombas atômicas.
Essas críticas fingem ignorar que as relações entre Estados soberanos são pautadas pelo interesse nacional e pela busca do equilíbrio do poder, não por considerações morais. A ética do Estado não é a mesma do cidadão; este pode - e deve - protestar contra a opressão em outros países, mas não se pode exigir que um Estado soberano dê lições de moral a outro. Se os Estados Unidos ainda fazem isso, é porque não perderam o complexo de "destino manifesto". Mas até eles não misturam os canais quando se relacionam, por exemplo, com a China.
Brasil e Irã têm interesses comuns, a despeito de suas diferenças políticas e ideológicas. Na questão nuclear, o Brasil tem autoridade moral e trânsito até para servir como mediador, caso seja solicitado. Por isso não faz sentido simplesmente engrossar o coro dos que colocam o Irã como integrante do "eixo do mal" por querer desenvolver um programa nuclear. É curioso, aliás, que aqueles que temem a bomba iraniana ou a "proliferação nuclear no Oriente Médio" se calem quando se trata do arsenal nuclear israelense...
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