Foi preso o criminoso de guerra Ratko Mladić, o sanguinário comandante militar das forças sérvias da Bósnia, responsável pelo massacre de mais de 8 mil bósnios muçulmanos na cidade de Srebrenica, em junho de 1995. Segundo o Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia (ICTY), Srebrenica foi o maior assassinato em massa na Europa desde a Segunda Guerra Mundial e fazia parte da política de “limpeza étnica” – eufemismo para genocídio – das autoridades sérvias comprometidas com o ideal da “Grande Sérvia” depois do desmantelamento da Iugoslávia. Mladić era o braço militar do psiquiatra e poeta Radovan Karadžić, dirigente da República Sérvia da Bósnia (Sprska), preso em 2008 e enviado a Haia. Junto com Slobodan Milošević, ex-presidente da Sérvia morto em 2006, eles formavam o trio macabro dos sérvios. Agora, Karadžić e Mladić vão ser julgados pelo Tribunal Internacional em Haia, na Holanda.
O ex-general sérvio-bósnio Ratko Mladic |
Srebrenica era uma cidade bósnia que havia sido colocada sob proteção da UNPROFOR, as forças de paz da ONU na Iugoslávia, e estava sob cerco das forças sérvias. Cerca de 30 mil civis – a maioria, muçulmanos bósnios – tinham se refugiado na cidade para escapar à ofensiva sérvia no nordeste da Bósnia-Herzegovina. A cidade estava sob proteção de apenas 100 “capacetes azuis” holandeses, mal-armados e mal-equipados. Ajudados por uma unidade militar regular da Sérvia, os Scorpions, os sérvios bombardearam a cidade entre 6 e 11 de junho de 1995. Ao entrarem em Srebrenica, separaram mulheres e crianças de homens e meninos. Estes foram retirados da cidade por dezenas de caminhões. Muitos foram barbaramente torturados antes de serem mortos; alguns foram enterrados vivos. A maioria morreu com as mãos amarradas nas costas e um tiro na nuca. Há relatos de pessoas que foram forçadas a matar seus próprios filhos ou a assistirem à execução destes por soldados sérvios.
A prisão de Karadžić e, agora, de Ratko Mladić, é uma vitória contra a barbárie. Mas falta alguém no tribunal de Haia: são os dirigentes da ONU que se recusaram a enviar reforços para que os capacetes azuis holandeses resistissem ao assalto dos sérvios. Havia inicialmente cerca de 600 soldados holandeses em Srebrenica, mas a maioria foi retirada da cidade. Com a diminuição da tropa, a falta de alimentos, combustível e munição, eles ficaram impedidos de oferecer qualquer resistência. Quando as tropas sérvias entraram em Srebrenica, não houve qualquer resistência dos bósnios; muito menos protesto da ONU. O comandante dos capacetes azuis pediu apoio aéreo à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para proteger a cidade do ataque das forças sérvias, mas este lhe foi negado. Os burocratas da UNPROFOR temiam que soldados holandeses detidos como reféns pudessem ser assassinados.
Em 2007, familiares das vítimas de Srebrenica entregaram ao governo holandês os documentos que mostram a omissão da UNPROFOR e dos soldados holandeses frente ao massacre. Eles pedem a responsabilização do Estado holandês e da ONU. O Tribunal Penal Internacional até agora não se pronunciou.
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