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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

MIREM-SE NO EXEMPLO DE ALEXANDRE, O GRANDE

O presidente americano, Barack Obama, sancionou a lei que permite que os homossexuais nas Forças Armadas assumam abertamente sua condição. A lei é uma grande conquista do movimento gay e dos defensores das liberdades civis, além de uma vitória política do presidente, que desde a campanha eleitoral de 2008 havia defendido o fim da chamada Don’t Ask, Don’t Tell (Não pergunte, não diga), de 1993, revogada semana passada pelo Congresso. Desde então, mais de 13 mil militares americanos foram afastados da caserna por assumirem sua homossexualidade. A medida é rejeitada por muitos oficiais de alto escalão, como o atual comandante do Corpo de Fuzileiros Navais, general James F. Amos, e deve demorar cerca de 60 dias para ser implementada. Um relatório do Pentágono concluiu que a revogação da norma proibitiva não prejudicaria as Forças Armadas, mas uma pesquisa recente revelou que 30% dos soldados são contrários à permissão, que também tem o veto dos capelães militares. Depois de conseguir aprovar a reforma da previdência, Obama consegue resgatar outra bandeira de Bill Clinton derrubada pela oposição conservadora. O fato é que hoje a maior potência militar de todos os tempos acabou com um tabu muito caro aos trogloditas da extrema direita.

General Raymundo Nonato Cerqueira Filho
Tempos atrás, o Brasil assistiu a um debate semelhante, com resultados obviamente diversos. Em 2008 os sargentos do Exército brasileiro Laci Araújo e Fernando Alcântara assumiram sua homossexualidade mas acabaram condenados pela corporação: Fernando deu baixa e Laci foi condenado pelo Superior Tribunal Militar a seis meses de prisão por deserção. O caso agora está no Supremo Tribunal Federal. Em 2010, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou a indicação do general Raymundo Nonato Cerqueira Filho designado para o Superior Tribunal Militar (STM). Em fevereiro, o oficial disse ser contra a presença de gays assumidos nas Forças Armadas. “Tem sido provado mais de uma vez, o indivíduo [homossexual] não consegue comandar. O comando, principalmente em combate, tem uma série de atributos, e um deles é esse aí. O soldado, a tropa, fatalmente não vai obedecer. Está sendo provado, na Guerra do Vietnã, tem (sic) vários casos exemplificados, que a tropa não obedece normalmente indivíduos desse tipo”, disse o general Cerqueira Filho. Tanta certeza sobre um tema tão complexo sempre me pareceu suspeita.

Alexandre, o grande
O general deve ter limitados conhecimentos de História. Se assim não fosse, saberia que um dos maiores generais de todos os tempos, o macedônio Alexandre, o grande (356a.C.-323a.C.), construiu o maior império da Antiguidade não obstante o fato de ser bissexual. Aliás, o discípulo de Aristóteles jamais permitiu que questões de ordem pessoal interferissem na condução das batalhas e do Império, como escreveu Plutarco. A homossexualidade era admitida em várias civilizações antigas, como na Grécia Clássica e na Roma dos Césares. O primeiro código penal contra relações entre pessoas do mesmo sexo foi editado por ninguém menos que o líder mongol Gengis Khan e, aliás, por razões militares; no Ocidente, as restrições chegaram pelas mãos dol libidinoso Henrique VIII - o monarca inglês das seis esposas - e da Santa Inquisição, principalmente em Portugal e Espanha e nas respectivas colônias.

Gengis Khan
 No século XIX, as teorias psicológicas desenvolveram a ideia de que o homossexualismo era uma patologia, uma "doença mental". Para enfrentá-la, os eugenistas, aqueles que queriam "melhorar a raça", propunham tratamento à base de choque, castração ou lobotomia. Já os nazistas levaram a eugenia ao ápice, mandando os gays para as câmaras de gás dos campos de extermínio, junto com judeus, ciganos, deficientes e comunistas, entre outros "párias da sociedade", segundo os ideólogos do III Reich.

Nas sociedades democráticas, o preconceito vem sendo combatido desde os anos 60 e os gays já conquistaram direitos até em países de maioria católica como a Espanha. Agora, se o Exército mais poderoso do planeta, atualmente envolvido em duas guerras, não tem medo de ter gays em suas fileiras, por que as demais corporações deveriam ter?

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