A versão indonésia do WikiLeaks - IndoLeaks.org - publicou documentos secretos de 1975 com conversas entre o presidente norte-americano Gerald Ford e o ditador indonésio Mohamed Suharto, que governou a Indonésia com mão de ferro entre 1967 e 1998. Nessas conversas, Suharto tenta convencer os EUA de que a invasão do Timor Leste - que deixara de ser colônia portuguesa depois da Revolução dos Cravos de 1974 - seria a única alternativa para evitar o "perigo comunista":
O presidente Gerald Ford e o ditador Suharto (1975) |
"O problema é que aqueles que querem a independência (do Timor) são influenciados pelo comunismo. Aqueles que querem a integração na Indonésia estão sujeitos a uma grande pressão por parte dos que são quase comunistas', aponta Suharto. 'Garanto que a Indonésia não quer interferir na autodeterminação de Timor Leste, mas o problema é gerir o processo de autodeterminação com a maioria a querer a unidade com a Indonésia.
Os dois presidentes tiveram uma reunião a 5 de Julho de 1975 em Camp David, na qual também participou o secretário de Estado Henry Kissinger. Daí a cinco meses, em 7 de Dezembro - data do ataque japonês a Pearl Harbour - a Indonésia iniciava a ocupação de Timor Leste, dez dias depois de Portugal ter declarado a ex-colônia independente. Hoje sabe-se que os EUA tiveram conhecimento prévio da invasão e que os portugueses informaram a administração Ford de que não resistiriam ao "uso da força por parte da Indonésia".
No entanto, estes novos documentos proporcionam um olhar inédito sobre a forma como Suharto convenceu os EUA a permitirem a incursão em Timor. 'Ao auscultar as opiniões do povo timorense, existem três possibilidades: independência; ficar com Portugal ou juntar-se à Indonésia', diz Suharto. 'Com um território tão pequeno e sem recursos, um país independente dificilmente seria viável. Ficar com Portugal é um fardo muito grande, estando Portugal tão longe. Integrarem-se na Indonésia como um país independente não é possível porque somos um Estado unitário. Assim, a única solução é uma integração na Indonésia [não como país independente].
O exército indonésio, ocupante do Timor Leste |
Massacre em Santa Cruz, 1991 |
Significativamente, o 3º volume de memórias de Henry Kissinger, Years of Renewal, um cartapácio de quase 1.300 páginas, não tem uma mísera citação sobre o Timor Leste. E a Indonésia é citada de maneira completamente marginal, em assuntos como o conflito no Sudeste Asiático. Christopher Hitchens tem razão em considerar o ex-secretário de Estado americano um criminoso de guerra - além do Timor, Kissinger se envolveu com crimes no Vietnã, no Chile e em Bangladesh - e compará-lo ao ex-ditador sérvio Slobodan Milosevic.
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