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domingo, 19 de dezembro de 2010

MICHELANGELO X BERNINI

"A missão que Michelangelo se impôs consistia, como bem sabemos, em tirar do mármore aquelas formas ideais que, acreditava, ali estavam aprisionadas. Assim, a força heroica de seu Davi (1504) está, precisamente, em sua inumana imobilidade. Só com o corpo frágil e alquebrado de Cristo na Pietà (1498-9) do Vaticano ele excepcionalmente buscou o naturalismo patético, porém esse corpo está no colo de uma Madona cuja beleza atemporal e perfeita a torna uma mãe menos convincente. Michelangelo não estava muito interessado em esculpir corpos e rostos comuns. Sua paixão era aproximar os homens dos deuses. Assim, por mais ilustre que fosse o modelo - o papa Júlio II, por exemplo -, ele nunca se preocupou em fazê-lo posar. Quando lhe perguntaram por que seus bustos dos Medici não se pareciam com os modelos, respondeu que, em mil anos, ninguém saberia como era essas pessoas (nem se importaria em saber, insinuou).























Gianlorenzo Bernini, porém, importava-se muito com a semelhança, a tal ponto que a redefiniu como mais que aparência. A verdadeira semelhança - a que ele queria captar em suas esculturas - era a vivacidade do caráter, expressa nos movimentos do corpo e do rosto [...]. Bernini tirou da estátua o elemento stat - que, em latim, indica imobilidade. Suas figuras escapam da força de gravidade exercida pelo pedestal para correr, contorcer-se, rodopiar, ofegar, gritar, latir, curvar-se em espasmos de intensa emoção.


O Baldacchino, no Vaticano
 






Correndo riscos incríveis com perfurações temerárias, Bernini organizou o mármore a fazer coisas que nunca fizera até então. Obrigou-o a voar e esvoaçar, a fluir e tremer. Libertas do bloco de pedra, suas figuras se entregam a uma febril atividade e, em geral, tendem naturalmente para o ar, para a luz. Acrescente-se a água, como em suas fontes exuberantes, e Bernini se torna um segundo Senhor da Criação, o supremo controlador dos elementos. Assim, na ponte Sant'Angelo, em Roma, seus anjos dançam ao sol. Dentro da basília, suas colunas de bronze sustentam o baldacchino - sobre a tumba de São Pedro -, mas não são estáticas; contorcem-se, cheias de vida, com abelhas e folhas fervilhando em sua superfície. No lado oposto da basílica, a cathedra Petri - o trono de São Pedro, no qual repousa institucionalmente toda a Igreja de Roma -, apoiada nas pontas dos dedos dos apóstolos, parece flutuar numa nuvem de hélio celeste".

Simon Schama, O Poder da Arte       

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