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segunda-feira, 5 de julho de 2010

PAVANA PARA UMA REVOLUÇÃO DEFUNTA

Cem anos atrás eclodia no México a primeira revolução social do século XX. Inicialmente, ela foi deflagrada pela burguesia, setores da classe média, do campesinato e dos trabalhadores urbanos contra o regime de Porfírio Díaz, que concentrava o poder na mão de uma diminuta oligarquia de latifundiários aliada ao capital externo. A revolução começou espontaneamente em novembro de 1910, sem nenhuma direção política, quando o candidato oposicionista Francisco Madero rejeitou como fraudulenta a "reeleição" de Porfírio Díaz, que estava há 30 anos no poder. Camponeses do norte liderados por Pancho Villa e indígenas da região de Morelos, no sul, liderados por Emiliano Zapata, atenderam ao chamado de rebelião de Madero. Em pouco tempo Díaz foi deposto e Madero eleito presidente, mas sua resistência a promover uma reforma agrária fez os camponeses voltarem à rebelião. Em 1913, sobreveio a contra-revolução: o general Victoriano Huerta, com o apoio da oligarquia, depôs Madero, que foi preso e assassinado. 
Os camponeses de Villa e Zapata se aliaram ao setor progressista do Exército, liderado por Venustiano Carranza e Alvaro Obregón e a guerra civil se generalizou. Huerta foi deposto em 1914, mas o vitoriosos também não levaram adiante as promessas de reformas sociais e novamente os camponeses se alçaram em armas - chegaram a controlar a capital por cinco meses. Em 1915, o Exército finalmente empurrou as forças de Villa para o norte e de Zapata para o sul.
Apesar disso, a Constituição elaborada pelo novo regime em 1917 era progressista: separava Igreja e Estado, autorizava a divisão da grande propriedade (haciendas) e a devolução das terras às comunidades indígenas, bem como garantia ao Estado a propriedade do subsolo - empresas estrangeiras exploravam petróleo e minerais no México. Mas tudo ficou no papel, enquanto a guerra social continuava. Zapata foi assassinado numa emboscada em 1919. Carranza teve o mesmo destino em 1920 e Villa em 1923. Obregón foi eleito presidente e buscou pacificar o país, organizando os camponeses em Ligas Agrárias e os trabalhadores urbanos em sindicatos. Seu sucessor, Plutarco Elias Calles, criou o Partido da Revolução Mexicana (PRM, futuro Partido Revolucionário Institucional, PRI) e tornou-se o grande caudilho da revolução, governando diretamente ou através de fantoches até 1934.
Foi a partir deste ano, com a eleição do general Lázaro Cárdenas, que a revolução finalmente começou a cumprir suas promessas. Cárdenas conquistou os trabalhadores urbanos ao apoiar suas greves contra empresas estrangeiras de petróleo. E o dos camponeses ao realizar uma ampla reforma agrária que distribuiu 18 milhões de hectares de terras aos pequenos camponeses. Por fim, ele nacionalizou o transporte ferroviário e a indústria petrolífera. Cárdenas também inagurou a política externa independente do México, apoiando ativamente os republicanos na Guerra Civil Espanhola e dando exílio ao revolucionário russo Leon Trotsky.
As reformas impulsionaram a economia mexicana, que cresceu até os anos 1960. Mas o PRI se eternizou no poder, criando uma casta burocrática e corrupta. Em 1968, a revolução se desfigurou por completo quando a polícia massacrou estudantes na praça de Tlatelolco, na Cidade do México. A pá de cal no legado de Cárdenas viria no final dos anos 80, quando o presidente "priista" Carlos Salinas de Gortari implantou as reformas neoliberais ditadas pelo Consenso de Washington.
Em 1994, o México assinou o acordo de livre comércio com os EUA (Nafta), que trouxe prosperidade para os negócios mas não para os mexicanos, que até hoje emigram em massa para os EUA, a maioria clandestinamente  (curiosa essa liberdade do capitalismo globalizado, que permite o movimento de capitais mas não o de pessoas...). O PRI finalmente foi apeado do poder em 2000 mas o México nunca mais encontrou seu rumo. Hoje, com o governo de direita perdendo a guerra para o narcotráfico, o PRI ensaia sua volta triunfal ao poder: venceu as eleições estaduais agora e é o grande favorito para 2012. 
      
"Seremos agora, por fim capazes de pensar por nossa própria conta? Poderemos conceber um modelo de desenvolvimento que seja a nossa versão da modernidade? Projetar uma sociedade que não esteja fundamentada na dominação dos outros e que não termine nem nos gelados paraísos policiais do Leste nem nas explosões de náusea e ódio que interrompem o festim do Ocidente?" (Octavio Paz, O Labirinto da Solidão)

 

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