O exterminador Nelson Tanure (à dir.) voltou ao ataque e já acabou com mais um grande veículo da imprensa brasileira. Há um ano ele devolvia a Gazeta Mercantil aos seus antigos proprietários, depois de ter enterrado o mais tradicional jornal de economia do Brasil. Agora, o empresário das docas anuncia o fim da circulação do Jornal do Brasil impresso: em breve, aquele que foi um dos mais influentes jornais do país existirá apenas em versão digital. Perto desse tipo de predador, o empresário William Randolph Hearst (1863-1951, à esq.), modelo para o Cidadão Kane, de Orson Welles, foi um benfeitor da humanidade.
O Jornal do Brasil foi fundado em 1891 para defender o deposto regime monarquista. Entre seus colaboradores estavam intelectuais do porte de Joaquim Nabuco, Eça de Queirós, José Maria da Silva Paranhos, Oliveira Lima e o barão do Rio Branco. Rui Barbosa chegou a ser seu redator-chefe em 1893, mas foi afastado naquele mesmo ano quando o marechal Floriano Peixoto mandou fechar o jornal. O motivo: o Jornal do Brasil entrevistara o contra-almirante Custódio de Melo, líder da segunda Revolta da Armada. Foi reaberto em 1894 sob a direção da família Mendes Almeida; posteriormente passaria ao controle do conde e da condessa Pereira Carneiro e finalmente para o genro deles, Nascimento Brito. Nos anos 1930, depois de uma série de crises financeiras, o JB foi transformado num “boletim de anúncios” e passou a ser jocosamente chamado de “jornal das cozinheiras”.
Em 1956, a condessa lançou o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil. Dois anos depois, ela chamou o jornalista Odylo Costa Filho para comandar uma equipe de jovens e dinâmicos jornalistas que promoveu uma ampla reforma gráfica e editorial. Foi talvez a maior revolução da imprensa no Brasil. O JB se transformou num veículo dinâmico e moderno, tornando-se um modelo que os demais diários do país em pouco tempo copiariam. Embora tenha apoiado do golpe cívico-militar de 1964, o JB fez um jornalismo crítico depois da instalação da ditadura.
Sua edição mais memorável foi a de 14 de dezembro de 1968, um dia depois da decretação do AI-5, que acabou com as garantias constitucionais no país. Impossibilitado de criticar diretamente o regime, o jornal apelou para a fina ironia: no alto da primeira página, uma pequena chamada no canto superior direito lembrava: “Ontem foi o dia dos cegos”. Na previsão do tempo, no canto superior esquerdo, a seguinte metáfora: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos. Máx. 38º em Brasília. Mín 5º nas Laranjeiras”.
Agora, o JB acabou melancolicamente, quase como a Gazeta Mercantil. Tanure vai se notabilizando como coveiro de grandes jornais brasileiros. Bem que ele podia fazer uma oferta aos Civita pela Veja...
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