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sábado, 10 de julho de 2010

HEIDEGGER NO QUARTIER LATIN OU O ASSALTO À RAZÃO

"Um dos aspectos mais curiosos do período contemporâneo é que a herança do Iluminismo esteja sob ataque não apenas dos suspeitos habituais da direita política, mas também dos representes da esquerda acadêmica. [...] Um elemento crucial subjacente a esta problemática síntese esquerda-direita reside num estranho capítulo na história das idéias: o fato de que, nos últimos tempos, anti-filósofos como Nietzsche e Heidegger tenham se tornado ídolos da França pós-guerra – sobretudo de pós-estruturalistas como Jacques Derrida, Michel Foucault e Gilles Deleuze. Paradoxalmente, um completo cinismo sobre a Razão e a democracia, marca registrada do pensamento reacionário, entrou no arsenal da esquerda pós-moderna. [...]
Como observadores da cena intelectual francesa notaram frequentemente, embora a Alemanha tenha perdido no campo de batalha, ela triunfou nas ruas, livrarias e cafés do Quartier Latin. Durante os anos 1960, as acusações splengerianas contra a ‘civilização ocidental’, até então cultivadas por representantes da direita intelectual alemã, migraram para o outro lado do Reno, onde ganharam uma nova roupagem [...] Adicionando o insulto à injúria, o novo assalto à Filosofia veio da pátria do Iluminismo...[...]. Durante os anos 1960, entre muitos intelectuais franceses, o relativismo começou a superar a virtude liberal da ‘tolerância’ – um preceito que permaneceu ligado às normas mandatórias de respeito fundamental à integridade humana.
 Quando combinado com um anti-humanismo inspirado no auto-ódio pelo Ocidente, o relativismo étnico engendrou um terceiro-mundismo acrítico, uma orientação que culminou no apoio entusiástico de Foucault à Revolução Islâmica do Irã. Uma vez que a ‘ditadura dos mulás’ era anti-moderna, anti-ocidental e anti-liberal, ela satisfazia ex negativo (pela negação) muitos dos critérios políticos atribuídos ao Terceiro Mundo para ser visto como 'progressista'. [...] Os excessos tirânicos do Terceiro Mundismo – a Revolução Cultural da China, Cuba de Castro, os ‘campos assassinos’ de Pol Pot (educado em Paris...) e do Khmer Vermelho, os regimes de Idi Amin, Mobuto e Duvalier – finalmente puseram um fim à ilusão de que os ‘condenados da terra’ eram os sujeitos da futura utopia socialista
(Richard Wolin, The Seduction of Unreason)

“[...] o namoro desses intelectuais franceses de esquerda com Heidegger tem, mais ainda, a ver com o fato de que, dadas as revelações sobre os regimes terroristas de Stálin, Mao Tsé-tung, Pol Pot etc., e dado o colapso da União Soviética, tenha-lhes parecido preferível abandonar de cabeça erguida o marxismo, trocando-o por um modo de pensar pretensamente ainda mais radical do que ele. [...] Além disso, é possível, com Heidegger, desdenhar (mas, igualmente, com argumentos mais ‘profundos’) não só o que, desde o marxismo, esses intelectuais, em maior ou menor medida, já haviam considerado como o embuste da democracia, dos direitos humanos etc., mas também o humanismo, o conceito de homem, de sujeito, a razão”
(Antonio Cícero)

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