“Se o século XX foi dominado, mais do que por qualquer outro evento singular, pela trajetória da Revolução Russa, o século XXI será moldado pelos resultados da Revolução Chinesa. O Estado soviético, nascido da Primeira Guerra Mundial, vencedor da Segunda, derrotado na fria réplica de uma Terceira, foi dissolvido depois de sete décadas com apenas um tiro, tão rapidamente quanto surgiu. O que sobrou foi uma Rússia menor em tamanho do que na época do Iluminismo, com menos de metade da população da URSS, com um capitalismo restaurado e mais dependente da exportação de matérias-primas que nos últimos dias do czarismo. Embora futuras reversões não possam descartadas, até agora o que sobrou da insurreição de Outubro, em sentido positivo, foi muito pouco. Sua realização mais duradoura foi negativa: a derrota do nazismo, feito que nenhum regime de outros países europeus poderia ter conseguido. [...]
O resultado da Revolução Chinesa oferece um contraste impressionante. Ao entrar em sua sétima década, a República Popular da China é um motor da economia mundial, o maior exportador singular para a União Européia, Japão e Estados Unidos, o maior detentor de reservas cambiais do mundo; por um quarto de século, a China vem exibindo as maiores taxas de crescimento da renda per capita, para a maior população já registrada no planeta. As grandes cidades chinesas não têm rivais para a ambição comercial e arquitetônica, os bens chineses são vendidos em toda parte. Construtores, pesquisadores e diplomatas chineses atravessam o mundo em busca de novas oportunidades e influência. A China é cortejada por amigos e também ex-inimigos. É a primeira vez na sua história que o antigo Império do Meio se tornou uma verdadeira potência mundial, cuja presença se estende para todos os continentes.
Com a queda da URSS, nenhuma fórmula para descrever aqueles eventos foi tão canonizada quanto “o colapso do comunismo”. Vinte anos depois, ela soa eurocêntrica. Visto sob essa nova perspectiva, o comunismo não apenas sobreviveu, mas está se tornando a história de sucesso de uma época. A natureza e a escala dessa realização, evidentemente, guardam mais do que um amarga ironia. Mas não há dúvidas sobre a diferença entre os destinos das revoluções na China e na Rússia”
(Perry Anderson, Two Revolutions)
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