Powered By Blogger

terça-feira, 4 de outubro de 2011

CHEGA DE BANCAR O AVESTRUZ

Trechos do post de Mauro Santayana, O DEVER E A CORAGEM, sobre a questão das drogas, um problema complexo geralmente tratado de maneira maniqueísta e com políticas repressivas - o que, em última instância, favorece apenas o crime organizado liderado pelos barões do narcotráfico e a banda podre da polícia. Quando vamos parar de bancar os avestruzes?   


Mauro Santayana
A Guerra do Ópio: os britânicos impuseram a droga aos chineses

"Não é necessário registrar o emprego dos narcóticos em rituais religiosos, para entender que as drogas fazem parte do humano viver. O que tornou grave o consumo foi a sua inclusão no circuito capitalista, ou seja, sua transformação em mercadoria. Isso ocorreu no século XIX, e trouxe, como primeira e gravíssima conseqüência, a Guerra do Ópio, quando a Inglaterra e outras potências europeias massacraram a China e transformaram o grande país em colônia, ao impor, manu militari, o consumo da droga, comercializada por empresas europeias, e produzida na Índia, da qual fazia parte o Paquistão, e no Afeganistão.

A cura pelos drops de cocaína
Nenhuma droga é mais consumida e mais danosa ao mundo contemporâneo do que a cocaína. Os povos andinos mastigam as folhas da coca há milênios, a fim de aliviar as penosas condições do altiplano, com a rarefação do ar. O alcalóide favorece a absorção do oxigênio e combate a fadiga. Foi a partir dessas qualidades medicinais que o químico alemão Albert Niemann conseguiu isolar o princípio ativo da planta, com o nome de cocaína, em 1859-60. Depois de ser usada como anestésico, a cocaína foi também empregada para combater o vício da heroína, tido como muito mais danoso. Mas foi a partir de 1883 que o consumo da droga entrou no circuito comercial.



Leão XIII consumia  vinho Mariani, que continha cocaína


O farmacêutico italiano Ângelo Mariani misturou cocaína ao vinho, a fim de produzir um tônico fortificante, indicado para a cura da tuberculose. O Vinho Mariani foi consumido e elogiado por grandes personalidades, mostrando que a Coca-Cola, que foi sua continuidade, teve precedentes de marketing em que se inspirar.

Entre outros consumidores, que aconselhavam seu uso, se encontrava o Papa Leão XIII, escritores como Robert Louis Stevenson e cientistas como o próprio Freud. A Coca Cola nasceu diretamente do Vinho Mariani, e, até hoje, como foi revelado sem desmentidos, em sua fórmula se emprega o extrato de coca. Relembre-se que a empresa mantinha, se ainda não mantém, uma plantação de coca na Bolívia, que foi preservada da erradicação dos cultivos, promovida pelos Estados Unidos há alguns anos.

A combinação entre o tráfico de drogas, o crime organizado e a corrupção assustadora dos meios policiais, está transformando o México em um pesadelo cotidiano e permanente. Antes que a situação em nosso país se torne tão grave, como a do grande vizinho do Norte, teremos que enfrentar o problema com decisão e coragem. É necessário legalizar o uso das drogas, por mais que essa decisão encontre a oposição das almas bem intencionadas. Seria bom que o Estado dispusesse do poder de exterminar o tráfico e eliminar o consumo de drogas, e evitar as conseqüências infernais de seu comércio clandestino. Como isso não ocorre, o melhor será legalizar a produção e comercialização de todas elas, sob a administração direta dos estados interessados.

O consumo da droga deve ser tratado como um problema de saúde pública, assim como são tratados os casos de psicopatia. Os viciados, sem prejuízo do tratamento de desintoxicação e de ajuda psicológica para que abandonem o hábito, devem ter o direito de comprar a droga e a consumirem sob assistência hospitalar. Com a legalização e transparência do consumo e comércio das drogas, não haverá mais o terror das chacinas de pequenos traficantes, nem a promiscuidade entre os chefes do tráfico, a polícia e as autoridades civis."

Nenhum comentário:

Postar um comentário