Passou em brancas nuvens o 30º aniversário do assassinato do presidente egípcio Anwar el-Sadat por fundamentalistas islâmicos. Militar ligado ao Grupo de Oficiais Livres que derrubaram o rei Farouk em 1952, Sadat assumiu o poder em 1970 depois da morte do carismático líder Gamal Abdel Nasser. Desconhecido mesmo no Egito, ele mostrou inicialmente uma disposição bélica contra Israel, que já havia imposto duas derrotas militares aos árabes – a Guerra da Independência de 1948 e a Guerra dos Seis Dias, em 1967. (A Guerra de Suez, de 1956, não conta, porque foi uma disputa inter-imperialista que marcou o canto de cisne do colonialismo britânico). A oportunidade surgiu em 1973, quando as forças egípcias atacaram Israel de surpresa durante as festividades de Yom Kippur (Dia do Perdão). No entanto, as vitórias militares iniciais dos egípcios foram neutralizadas tanto pela contra-ofensiva de Israel como pela ação das superpotências (EUA e URSS), que atuaram para manter o status quo – alguns diriam equilíbrio de poder - no Oriente Médio.
O novo fracasso militar convenceu Sadat que a única saída para o Egito seria a via diplomática. Então, ele decidiu atravessar o Rubicão: sacrificou a unidade árabe em favor da paz em separado com Israel. Em 1977, anunciou ao Parlamento egípcio que estava preparado para ir a qualquer lugar para negociar um acordo de paz com os israelenses – até mesmo a Israel, Estado que os países árabes não reconheciam e ao qual se referiam pejorativamente como “entidade sionista”.
Sadat foi a Jerusalém e iniciou um processo que culminaria com as negociações em Camp David, organizado pelo então presidente americano Jimmy Carter. Com esse acordo, o Egito reconheceu Israel e este devolveu ao Egito a Península do Sinai, ocupada desde a guerra dos Seis Dias. Esse acordo com o inimigo histórico rendeu a Sadat o Prêmio Nobel da Paz de 1978 – em conjunto com o premiê israelense Menachem Begin –, e, ao mesmo tempo, o ódio eterno dos radicais árabes e extremistas muçulmanos.
Sadat (esq.) com Begin e Carter: a finest hour |
Sadat foi a Jerusalém e iniciou um processo que culminaria com as negociações em Camp David, organizado pelo então presidente americano Jimmy Carter. Com esse acordo, o Egito reconheceu Israel e este devolveu ao Egito a Península do Sinai, ocupada desde a guerra dos Seis Dias. Esse acordo com o inimigo histórico rendeu a Sadat o Prêmio Nobel da Paz de 1978 – em conjunto com o premiê israelense Menachem Begin –, e, ao mesmo tempo, o ódio eterno dos radicais árabes e extremistas muçulmanos.
Para atenuar essa oposição, Sadat investiu pesadamente na melhoria das condições de vida dos miseráveis do país, especialmente no Cairo, a superpovoada capital egípcia. Nunca se investiu tanto em programas sociais quanto então. Sadat sabia que era entre as massas despossuídas que os fundamentalistas islâmicos faziam sua colheita. O tempo, contudo, não estava ao seu lado. Desafiando as advertências de sua segurança para não aparecer em público, Sadat foi assassinado a tiros no dia 6 de outubro de 1981, quando assistia ao desfile militar comemorativo da Guerra do Yom Kippur. Seus assassinos eram membros da Jihad Islâmica Egípcia infiltrados no Exército. Ele foi sucedido por outro militar, Hosni Mubarak, que ficaria quase 30 anos no poder, até ser apeado por uma rebelião popular.
Três décadas depois, o legado de Anwar el-Sadat ainda desperta muita controvérsia no Oriente Médio. A região continua cada vez mais distante de um acordo de paz entre israelenses e palestinos, com o agravante de não existerem mais líderes do quilate de Sadat, Ben Gurion ou Yitzhak Rabin. Por isso mesmo, ainda é muito cedo para se ter um veredicto histórico sobre o legado de Anwar el-Sadat. Mas ele ousou ir contra a corrente – o que é absolutamente excepcional para um político do Oriente Médio.
Extremistas islâmicos metralham o palanque oficial |
Nenhum comentário:
Postar um comentário