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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A FASCINANTE LOUISE BROOKS


Há uma atriz do cinema mudo cuja história poucos conhecem, mas cuja imagem, misteriosa e fascinante, é imediatamente reconhecível por todos, mesmo hoje em dia: a americana Louise Brooks (1906-1985), famosa por sua atuação como Lulu em Caixa de Pandora (1929) e por ter popularizado o corte bobbed haircut nos loucos anos 1920. Ela encaixa-se perfeitamente na definição de mulher de Baudelaire: “A mulher é um reflexo de todas as graças da natureza condensadas num único ser; é o objeto de admiração e da curiosidade mais viva que o quadro da vida pode oferecer ao contemplador. É uma espécie de ídolo [...]  maravilhoso, encantador, que mantém os destinos e as vontades presas ao seu olhar.”

Mas Louise Brooks não foi apenas uma mulher de beleza  incomparável e sensualidade transbordante. Atriz, dançaria e modelo, ela esteve muito à frente de seu tempo: numa época em que a maioria dos atores de Hollywood eram explorados e se submetiam às exigências mais estapafúrdias, ela valorizava mais a dignidade do que o sucesso. Pagaria um preço alto por sua independência. Louise brigou com a Paramount por ter um pedido de aumento de salário recusado; foi para a Alemanha, a convite do diretor expressionista G. W. Pabst, para filmar Caixa de Pandora - filme que depois seria banido pelos nazistas por ter sido considerado um dos representantes da "arte degenerada". Na volta aos EUA, ela recusou um cachê para dublar a própria voz no filme Canary Murder Case. A vingança dos estúdios foi devastadora: espalharam o boato de que Louise tinha uma voz horrível e que por isso não poderia dublar o filme. Ficaria no ostracismo por um bom tempo. Mesmo assim, Louise participou de 24 filmes entre 1924 e 1938, entre eles Beggars of Life.
Sua imagem serviria de inspiração para o escritor argentino Adolfo Bioy Casares na personagem Faustine, do livro A Invenção de Morel, uma mulher fictícia, que só existia em imagens de 3D (já o livro de Casares inspirou o filme O Ano Passado em Marienbad, do diretor francês Alain Resnais). E a atriz Liza Minelli disse numa entrevista que seguiu o conselho de seu pai e pensou em Louise Brooks como modelo de mulher liberada dos anos 30 para representar a personagem Sally Bowles em Cabaret (1972). Antes, Minelli pensara em Marlene Dietrich.    

Louise escreveu sua autobiografia, mas a incinerou logo depois de terminá-la."Na história de uma vida, acho que o leitor não pode entender a personalidade e os feitos de uma pessoa, a menos que sejam explicados os amores, ódios e conflitos sexuais dessa pessoa. Não estou disposta a escrever a verdade sexual que tornaria minha vida digna de ser lida", disse. Não dá sequer para imaginar uma celebridade tendo tal comportamento hoje em dia...

Em 1955, na exposição 60 Anos de Cinema, realizada no Museu de Arte Moderna de Paris, foi colocado na entrada um imenso poster de Louise Brooks. Questionado sobre o porquê da preferência por ela, em vez de Greta Garbo ou Marlene Dietrich - atrizes contemporâneas bem mais populares - o diretor da Cinemateque Française, Henri Langlois, saiu-se com esta: "Não existe Garbo. Não existe Dietrich. Existe apenas Louise Brooks".     

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