“Alguém certamente havia caluniado Joseph K., pois numa manhã ele foi detido
sem ter feito mal algum”
[...]
“– Não é preciso considerar tudo como verdade; é
preciso apenas considerá-lo necessário.
– Opinião desoladora – disse K. – A mentira se converte em ordem
universal”.
Franz Kafka, O Processo
O cineasta iraniano Jafar Panahi, diretor dos premiados O Balão Branco; O Círculo; O Espelho e Fora do Jogo, foi sequestrado no dia 1o. de março por policiais iranianos à paisana e levado para local incerto e não sabido. Os policiais também levaram a mulher e a filha do cineasta. A prisão dele foi confirmada pelo procurador Abbas Jafari Dolatabadi, que disse, kafkianamente, que a detenção "não teve motivação política". Aliás, a trajetória de Panahi daria um romance kafkiano. O Círculo, que discute a situação de opressão vivida pelas mulheres iranianas, recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2000. Evidentemente, o filme foi impedido de ser exibido no Irã. Convidado a fazê-lo nos Estados Unidos, Panahi teve seu visto de entrada negado pelos americanos por conta da paranóica "guerra ao terror" (o Irã, lembrem-se, faz parte do "eixo do mal" e como o direitor é iraniano...). Em fevereiro último, Panahi foi convidado a ir ao Festival de Berlim para receber a premiação por Fora do Jogo mas foi impedido de sair do país pelas autoridades iranianas.
Se sua prisão não teve motivação política, talvez ela tenha ocorrido por razões estéticas: numa ditadura, a opinião do censor pode não ser verdadeira, mas é necessária...
Em Cuba, o jornalista dissidente Guillermo Fariñas, 43, em greve de fome há dez dias, foi hospitalizado depois de ter perdido a consciência. Ele exige que o governo liberte entre 25 e 30 prisioneiros de consciência que estariam debilitados. Há cerca de 200 prisioneiros políticos em Cuba e o governo não permite a visita de entidades como a Cruz Vermelha. Há o temor de que este caso possa ter o mesmo desfecho que o de Orlando Zapata Tamayo, dissidente morto em 23 de fevereiro em consequência da greve de fome por melhores condições carcerárias. Para a ditadura castrista, Fariñas é um "criminoso comum". Se ele vier a morrer, Havana vai culpar novamente o imperialismo americano, como fez no caso de Zapata.
quinta-feira, 4 de março de 2010
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