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quinta-feira, 7 de julho de 2011

O UTILITARISMO É UM HUMANISMO


Richard Rorty ou o utilitarismo de esquerda
"Os relativistas concordam sobre o fato de que o colapso do marxismo ajudou-nos a compreender por que a política não deveria tentar ser redentora. E não por estar disponível outro tipo de redenção, aquela que os católicos consideram possível encontrar na Igreja, mas porque desde o início a redenção sempre foi uma má ideia. É preciso tornar os homens mais felizes, e não redimi-los, porque eles não são seres degredados, almas imateriais aprisionadas em corpos materiais, almas inocentes corrompidas pelo pecado original. Os homens são, como afirmava Friedrich Nietzsche, animais inteligentes. Inteligentes porque, diferentemente de outros animais, aprenderam como colaborar uns com os outros para poder realizar os próprios desejos da melhor forma possível. No decorrer da história, nós, animais inteligentes, adquirimos novos desejos e nos diferenciamos bastante de nossos ancestrais animais. Nossa inteligência, de fato, não apenas nos permitiu adequar os meios aos nossos fins, mas também imaginar novos fins, cogitar novos ideais.

[...]


John Stuart Mill
Bento XVI lamentoiu-se sobre o fato de que a Igreja tem cada vez mais dificuldade para dizer em que acredita. Em breve, declara o papa, já não será possível afirmar que  homossexualidade constitui um distúrbio objetivo na estrutura da existência humana, como ensina a Igreja católica. [...] O papa tem razão ao sugerir que a pressão por parte de uma opinião pública ultrajada poderia obrigar a Igreja a silenciar sobre o tema da homossexualidade. Espero que seus receios sejam confirmados e que isso ocorra, pois acredito que a condenação da homossexualidade gerou uma considerável e desnecessária infelicidade humana.

A atitude da Igreja reduziu significativamente a felicidade humana. A controvérsia sobre a homossexualidade suscita uma pergunta essencial sobre a natureza da moralidade: a Igreja tem razão em afirmar que existe uma espécie de estrutura de existência humana capaz de servir de ponto de referência moral, ou nós, seres humanos, não temos obrigações morais, além da obrigação de nos ajudar reciprocamente a satisfazer nossos desejos, atingindo assim a maior felicidade possível?

Concordo com John Stuart Mill, o grande filósofo utilitarista, sobre o fato de que esta última é a nossa única obrigação moral.

A Igreja, obviamente, afirma quje opiniões como as de Mill reduzem o ser humano à categoria de um animal, mas filósofos como eu acreditam que o utilitarismo nos engrandece, oferecendo-nos um ideal moral estimulante. O utilitarismo conduzia a esforços heroicos e altruístas no interesse da justiça social, esforços perfeitamente compatíveis com a afirmação de que não existe nenhuma estrutura da existência humana.

George Santayana
O filósofo espanhol George Santayana afirmou que a superstição é a confusão de um ideal com o poder; é acreditar que qualquer ideal deve de algum modo fundamentar-se em algo já existente, em algo transcendente que põe esse ideal diante de nós. O que o papa define como estrutura da existência humana é um tipo dessa entidade transcendente.

Santayana afirmava, e eu concordo com ele, que a única fonte de ideais morais é a imaginação humana; esperava que os seres humanos, no fim, abandonariam a noção de que os ideais morais deveriam fundamentar-se em algo mais amplo que eles mesmos. Esperava que começasssem a pensar que todos esses ideais como criações humanas, sem se ressentir com isso."

Richard Rorty, Uma ética laica

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