Trata-se de um blog despretensioso de um jornalista dublê de sociólogo que deixou as grandes redações depois de ter acumulado décadas de experiência e, em função disso, acredita que tenha algo a transmitir a eventuais leitores... além de, claro, cumprir o dever de ofício de ajudar a "desafinar o coro dos contentes", como dizia Torquato Neto, e de "consolar os aflitos e afligir os consolados", como pregava Joseph Pulitzer.
Até os anos 1960, a política internacional era dominada por estadistas do calibre de Franklin D. Roosevelt, Winston Churchill, Konrad Adenauer, Charles De Gaulle e Alcide De Gasperi, entre outros. A sofisticada visão histórica e a habilidade política desses líderes lhes permitiram enfrentar os dramáticos desafios colocados em seu tempo. Mas, de lá para cá, a qualidade dos dirigentes mundiais só vem caindo, atingindo um nível inimaginável apenas 20 anos atrás. Hoje, em meio a líderes tão patéticos como George W. Bush, Tony Blair, Angela Merkel, Nicholas Sarkozy e Silvio Berlusconi, mediocridades como Gerald Ford, Edward Heath, Helmut Schmidt, Georges Pompidou e até Giulio Andreotti se agigantam. É a conseqüência da espetacularização da política trazida pelo mundo pós-moderno – ou “líquido”, na definição de Zigmunt Bauman –, onde tudo que é sólido se desmancha no ar.
Nelson Mandela
Mas há uma exceção importante – e essa exceção impressiona pelo gigantismo do personagem. Trata-se de Nelson Rolihlahla Mandela, que hoje completa 93 anos. Ele se tornou o símbolo da luta contra uma das mais ignominiosas crias da civilização ocidental e cristã, o apartheid, regime de supremacia branca na África do Sul que se baseava na leitura holandesa "reformada" da Bíblia sobre o “desenvolvimento separado” das raças. Mandela foi o líder da resistência armada ao apartheid, o maior símbolo da luta contra a tirania branca na África. Mas pegar em armas, embora tenha lhe custado 27 anos de prisão, foi mais "fácil" do que a ciclópica tarefa de liderar a transição do apartheid para uma democracia multirracial sem provocar um cataclismo social e político. Mandela reconciliou um país dilacerado por ódios profundos, quando poderia tê-lo mergulhado numa guerra civil em nome da vingança dos oprimidos. E, em vez de se eternizar no poder, como a maioria dos líderes de guerras de libertação, retirou-se depois de apenas um mandato. Poucos na História tiveram essa estatura.
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