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Presidenta Dilma Rousseff: quantas divisões ela tem? |
Nos primeiros seis meses de governo, a presidenta Dilma Rousseff queimou a língua várias vezes. Ela adotou posições duras e depois recuou – nos casos das regras especiais para contratações de obras da Copa do Mundo de 2014, da prorrogação do prazo das emendas parlamentares e do sigilo eterno dos documentos secretos do governo. Talvez lhe falte experiência para saber que, em política, assim como no campo de batalha - afinal, a política também é a continuação da guerra por outro meios -quem não tem força suficiente para se impor não pode ameaçar o adversário, sob pena de ser derrotado ou se desmoralizar. Nessas circunstâncias, é necessário evitar o embate frontal e adotar a estratégia “fabiana” de comer pelas bordas, como sabiamente recomendava Niccolò Machiavelli. Na verdade, estou usando as derrotas política da presidente como pretexto para falar sobre a fascinante história dessa estratégia, cujas origens remontam aos campos de batalha da Segunda Guerra Púnica (218aC-201aC), travada entre os exércitos de Roma e Cartago.
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Fabius Maximus Cunctator |
A estratégia deriva seu nome de Quintus Fabius Maximus Verrucoso – depois conhecido como Fabius Cunctator – ditador da República Romana, a quem foi conferida a tarefa de derrotar o grande general cartaginês Aníbal Barca no sul da Itália. Ele se tornou uma grande ameaça a Roma depois de ter invadido a Itália atravessando os Alpes com sua cavalaria de efefantes durante o inverno. Aníbal infringiu perdas devastadoras aos romanos, principalmente nas batalhas de Trebbia e a do Lago Trasimeno. Fabius iniciou então uma guerra de atrito, explorando vulnerabilidades estratégicas do general cartaginês, mas evitando entrar em confronto direto com ele.
Aníbal tinha dois
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Aníbal Barca, general cartaginês |
pontos fracos. Em primeiro lugar, ele era comandante de um exército em solo italiano, muito distante de Cartago, que se deslocava com rapidez e tinha grandes dificuldades logísticas. Tendo isso em conta, em vez de enfrentar o exército cartaginês, Fabius atacou as linhas de suprimento de Aníbal e o obrigou a fazer manobras em terreno acidentado, de modo a anular sua superioridade na cavalaria. O segundo ponto fraco do general cartaginês consistia no fato de grande parte do seu exército ser composto por mercenários da Gália e da Espanha, que não tinham grande lealdade a Aníbal, ainda que não gostassem de Roma. Sendo mercenários, eles estavam despreparados para a guerra de desgaste; não tinham nem equipamento nem paciência para tal campanha. A estratégia de Fabius Cunctator de atrasar a batalha, atacar as cadeias de fornecimento e evitar o confronto direto, assim, atingiu em cheio o exército de Aníbal. Apesar disso, muitos dos conterrâneos de Fabius viam essa estratégia como indigna e covarde, embora eficaz em alguns aspectos, e o apelido Cunctator – o que posterga – inicialmente era pejorativo. A estratégia foi então abandonada, mas a vitória dos cartagineses em Cannae, em 216aC, fez os romanos retomá-la.
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Batalha de Zama (202 aC) |
Embora a vitória final de Roma sobre Aníbal e Cartago tenha sido conquistada na batalha de Zama (202 aC) por Cipião, o Africano, um general romano que se opunha às teses de Fabius Cunctator, a estratégia fabiana foi reconhecida como responsável por ter salvo Roma em seu momento mais crucial. Aníbal e Cipião são tidos como dois dos maiores generais de todos os tempos, mas a estratégia fabiana ganhou força a partir do século XVIII, tendo sido empregada por George Washington contra os ingleses na Guerra da Indendência Americana, e no século XIX pelos espanhóis contra as tropas napoleônicas. O fabianismo inspiraria, portanto, tanto a guerra de guerrilhas – que opunha exércitos irregulares a regulares – quanto uma modalidade moderada de socialismo.
Seria bom conhecer essa estratégia para adotá-la quando necessário – embora políticos intuitivos que aprenderam a usá-la, como Lula, por certo não a conheceram pelos livros de História.
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