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domingo, 29 de agosto de 2010

RENEGANDO O PASSADO

Carlos Lacerda, o golpista
José Serra, o renegado
"O desespero é uma quimera, o que o torna tão semelhante à esperança", dizia o escritor húngaro Sandor Petöfi (1823-1849). Despencando nas pesquisas, o candidato tucano José Serra está tão apavorado com a perspectiva de perder as eleições já no primeiro turno que vem fazendo uma campanha errática e esquizofrênica. Tentativas de pegar carona na popularidade do presidente Lula se mesclam a posicionamentos dignos de Carlos Lacerda, o maior golpista de nossa história. Mas agora Serra se superou: ele chegou ao ponto de renegar o próprio passado para tentar obter algum novo apoio. E logo de quem? Dos militares de pijama dos Clubes Militares, muitos saudosistas da ditadura. O desespero é tamanho que Serra parece incapaz de formular a pergunta clássica atribuída ao ditador Josef Stálin: "Mas quantas divisões eles têm?"

 Eles viam ameaça comunista em tudo 
Na última sexta-feira, o candidato da elite cheirosa fez uma palestra no Clube da Aeronáutica, no Rio de Janeiro, na qual sugeriu que o governo Lula teria implantado a tal "república sindicalista" no Brasil. Como presidente da UNE em 1964, Serra esteve presente no comício da Central do Brasil em 13 de março daquele ano para defender o governo João Goulart, acusado pela direita civil e militar justamente de tentar criar uma "república sindicalista". Na palestra o ex-governador "explicou" aos militares que aquela acusação carecia de sentido na época de Jango... mas que, agora, ela se tornou realidade. Qual é a conclusão lógica desse raciocínio torto? Parece haver uma sugestão subliminar de que hoje, sim, haveria justificativa para uma intervenção militar para derrubar a tal república. Franco Montoro e Mário Covas, que eram tucanos mas tinham um mínimo de coerência ideológica, devem estar se revirando no túmulo.
Mirou o Planalto e acertou o próprio pé

O pior de tudo é que um sujeito que ficou 14 anos exilado por conta de suas ideias políticas aproveitou o ambiente e o clima no Clube da Aeronáutica para atacar a retomada da discussão sobre a Lei de Anistia, fazendo coro com a crítica dos militares a essa iniciativa do governo Lula. Mais grave ainda, contudo, foi o fato de Serra ter proibido o acesso de jornalistas à palestra aos milicos. Logo ele, que vive denunciando - com ampla repercussão midiática - a suposta "censura" que o governo Lula estaria tentando impor aos meios de comunicação. Se como candidato ele foi capaz de impedir a presença de jornalistas num evento público, imagine-se o que ele faria se tivesse o poder federal nas mãos. Nenhuma surpresa, contudo, vindo de quem se acostumou a pedir cabeças de jornalistas desafetos a donos de jornais.

O irônico disso tudo é que Serra sempre mostrou profunda aversão pelos militares. Feridas do exílio, poder-se-ia imaginar. Mas não; trata-se de pura arrogância e ignorância. Ele nunca se pronunciou o sobre o papel que as Forças Armadas devem ter num Estado Democrático de Direito. Nunca teve familaridade alguma com a área de Defesa. Não seria surpresa, portanto, que, se chegasse ao Planalto, Serra reveria todo o programa de reformulação das Forças Armadas posto em curso pelo atual governo. Sob Lula, o papel dos militares foi redefinido e as forças singulares estão sendo reequipadas com base no Plano Nacional de Defesa, de maneira a propiciar o renascimento da indústria de defesa nacional, por meio da transferência de tecnologia dos fabricantes de equipamentos militares. Mas será que a turma de pijama se dá conta disso?

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