O ministro da Defesa, Nelson Jobim, havia se firmado como o melhor ocupante da pasta desde que ela foi criada, em 1999. Primeiro, elaborou um Plano Nacional de Defesa (PND) que redefiniu o papel das Forças Armadas brasileiras - até então, elas seguiam parâmetros estratégicos definidos na época da Guerra Fria - e lançou as bases para a reconstrução da indústria bélica nacional. A partir disso, a compra dos caças supersônicos do programa FX foi reprogramada, priorizando-se a transferência de tecnologia; decidiu-se também pela continuidade do programa do submarino nuclear brasileiro, em parceria com a França. E Jobim também soube impor a autoridade do ministério sobre a caserna, chamando para a pasta a responsabilidade de indicar os comandantes militares.
Mas agora, inexplicavelmente, ele anuncia a assinatura de um tratado militar com os Estados Unidos, restaurando, de certa forma, o acordo de 1952, rompido unilateralmente em 1977 pelo governo brasileiro. Como lembrou Mauro Santayana, acordos militares são necessários quando um inimigo comum ameaça os contratantes. Mas o Brasil não tem contencioso com seus vizinhos, nem divergência com algum país que não possa ser resolvido com a diplomacia. As únicas ameaças que sofremos são às soberanias da plataforma continental e da Amazônia. E esta última ameaça - mesmo que hipotética - vem justamente dos Estados Unidos. Não é à toa que os militares brasileiros que atuam na região hoje estudem as táticas de guerrilha na selva do general vietnamita Vo Nguyen Giap, que enfrentou e venceu os franceses e os americanos.
Se o tratado foi assinado por causa da "boa vontade" do governo Obama com o Brasil, trata-se de uma ingenuidade franciscana. Acordos são assinados entre Estados, independentemente de quem os governe. Hoje é Obama, amanhã poderá ser Bush III ou Nixon II. Mas se foi para facilitar a venda de aviões de treinamento Super Tucano da Embraer para os EUA, como sugerem alguns, estaremos igualmente em maus lençóis. Além de uma aliança militar desnecessária, os EUA poderão exigir, em contrapartida, que o governo brasileiro compre os caças F-18 Super Hornet, da Boeing, ficando à mercê dos humores americanos no quesito transferência de tecnologia. Se isso acontecer, estaremos dando, então, dois passos atrás depois de termos dado um grande passo à frente.
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