Há 28 anos, em 2 de abril de 1982, as tropas da ditadura militar argentina invadiam o arquipélago das Malvinas - Falklands, para os britânicos - provocando uma reviravolta no sistema de alianças geopolíticas da Guerra Fria. Os argentinos receberam o apoio óbvio das ditaduras militares de direita, como a do Brasil, mas também de esquerda, como a de Cuba - em nome do "anti-imperialismo". Os Estados Unidos, rasgando os acordos interamericanos como o TIAR, apoiaram os britânicos. Em Buenos Aires, milhares de pessoas ocuparam o lugar das Madres na Plaza de Mayo para manifestar apoio ao general Leopoldo Fortunato Galtieri, o Napoleão de opereta que planejara a aventura para salvar o regime que se decompunha. Lembro-me de cenas inacreditáveis, kafkianas mesmo, como ex-guerrilheiros Montoneros, recém saídos das masmorras do regime, se juntando à histeria nacionalista.
A operação foi um erro de cálculo fatal dos militares argentinos, que acreditavam que a "pérfida Albion" jamais deslocaria uma força-tarefa para as ilhas. O Reino Unido reconquistou as Malvinas depois de dois meses de combates em que os torcionários acostumados a matar civis desarmados foram humilhados pelos soldados britânicos. Os argentinos estavam tão despreparados militarmente que perderam o cruzador General Belgrano, afundado pelos britânicos, e tiveram que esconder o porta-aviões 25 de Mayo para que este não tivesse o mesmo destino. A pantomima de Galtieri custou a vida de 649 soldados argentinos e 255 britânicos e minou de vez os alicerces daquele regime sanguinário, que seria varrido do mapa naquele mesmo ano. De quebra, foi decisivo para a reeleição de Margaret Thatcher em 1983. Para mim, permanece incompreensível o apoio de certa esquerda - não apenas argentina, mas latino-americana - àquela patriotada. Falavam em "autodeterminação dos povos", mas esqueceram-se de perguntar a opinião dos kelpers, os habitantes das ilhas, que sempre se consideraram súditos de Sua Majestade Britânica. Pior: deram pouca importância às consequências de uma eventual vitória argentina - a perpetuação de um regime genocida.
Uma entrevista daquela época foi memorável: meses antes da invasão, a jornalista italiana Oriana Fallaci perguntou a Galtieri: "general, o senhor já foi a uma guerra?" Dizem as más linhas que daí nasceu o delírio do "Napoleão do Prata", que teve seu Waterloo sem jamais ter tido seus Marengo, Austerlitz e Iena.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
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