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terça-feira, 19 de março de 2013

UMA LIÇÃO À ESQUERDA 'PAPA HÓSTIA'

José "Pepe" Mujica e sua mulher, a senadora Lucia Topolansky

No meio de tanta badalação midiática - até em alguns setores progressistas - em torno da escolha do novo papa, o presidente do Uruguai, José Pepe Mujica, voltou a destoar do coro dos contentes e se recusou a ir a Roma para beijar a mão do novo pontífice em razão de suas convicções pessoais – ele é ateu – e também por respeitar a laicidade do Estado. Um gesto raro em nuestra mui católica Latinoamerica.    

A primeira dama e senadora do Uruguai, Lucia Topolansky, foi quem esclareceu as razões do marido: “O Uruguai é um país laico desde o século passado. Nesse particular, nós diferimos do resto da América Latina. Temos um grande respeito pela religião; aqui há liberdade de culto, mas nós (ela e o marido) não somos religiosos. Como o vice-presidente Danilo Astori é, o presidente achou mais oportuno que ele viajasse a Roma”.    

Apesar disso, a senadora Topolansky reconheceu a importância do acontecimento – a eleição do papa – e disse que ficou surpresa que o herdeiro de Bento XVI tenha sido um argentino. “É bom que o papa seja rioplatense e que tome mate”, disse. “Como as coisas têm sempre uma leitura política, é uma novidade que o papa seja um latino-americano”, arrematou Topolanksy.

Depois da eleição de Bergoglio como papa, a BBC chegou a compará-lo ao presidente uruguaio: “Francisco é o Pepe Mujica do Vaticano”, disse a emissora britânica em referência aos hábitos franciscanos de ambos. Mas o velho tupamaro não caiu na tentação fácil de ser comparado ao papa jesuíta e fez questão de manter distância do pontífice. “A única coisa que temos em comum é que gostamos de mate e de tango”, despistou Mujica.

Nestes tempos sombrios de espetacularização da política, Mujica representa a lucidez da velha esquerda anticlerical, radical (no sentido marxiano de tomar as coisas pela raiz) e democrática. Nenhum outro líder da esquerda mundial atual disputa com ele a herança das tradições libertárias de Jean Jaurès; Leon Blum, Pietro Nenni e Enrico Berlinguer.   

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