
O que
me impressionou na cobertura jornalístico desse evento foram são as “análises” ancoradas
no mais primário tipo de maniqueísmo: de um lado, matérias à “esquerda”, denunciando o
neocolonialismo britânico e ignorando o direito de autodeterminação dos povos;
de outro, a direita colonizada falando em autodeterminação como se nunca
tivessem existido fenômenos como o colonialismo e o imperialismo.
O fato é que, com o Reino
Unido afundando na recessão e o governo conservador amargando altas taxas de
impopularidade, o premiê David Cameron inventou este plebiscito para desviar a
atenção dos britânicos e lhes insuflar o sentimento nacionalista. É o velho
Panis et Circensis da Roma antiga. Cameron, aliás, nem precisaria conhecer a história
antiga (tenho dúvidas de que ele conheça), pois ele está repetindo a tática usada em 1982 por sua antecessora em Downing Street , 10,
Margaret Thatcher. Na época, os facínoras que ocupavam a Casa Rosada tiveram a brilhante
ideia de invadir as Ilhas Malvinas para unir o país em torno deles e
dar sobrevida à ditadura, já que a Argentina amargava uma grave crise econômica
e social. Apostaram na aliança com os EUA e no fait accompli, mas quebraram a cara. O pior é que grande parte da
esquerda mundial apoiou os gorilas argentinos, em nome do anti-imperialismo.
Desgastada politicamente no front doméstico, a Dama de Ferro viu na desastrada
iniciativa dos militares argentinos uma oportunidade para resgatar a popularidade.
Despachou uma esquadra para o Atlântico Sul e retomou sem dificuldade o controle das ilhas,
granjeando apoio popular em
casa. Com isso, mesmo com a insatisfação dos britânicos com a recessão e o desemprego, ela ganhou facilmente as eleições daquele ano. Ironicamente , Thatcher, que tanto admirava tiranias latino-americanas como a de seu amigo Pinochet, ajudou a pregar o último prego no caixão da
ditadura argentina.
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