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quarta-feira, 20 de março de 2013

SE A MODA PEGA...


Depois da pequena Islândia, agora foi a vez da ilha de Chipre recusar a tunga que a troika (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e FMI) queria impor ao povo para salvar os bancos. No sábado passado, com o país quebrado, o “Politburo” da banca europeia propôs emprestar € 10 bilhões para dar início a um processo de resgate financeiro dos bancos cipriotas. Em troca, exigiu que o governo cobrasse um imposto compulsório de todos os correntistas do país – 6,75% em todos os depósitos entre € 10 mil e € 100 mil e 9,99% acima de € 100 mil. Com isso, havia a expectativa de se captar € 6 bilhões. O senador Collor de Melo deve estar exultante, pois além de ter sido pioneiro na arte de tungar correntistas, seu confisco foi muito mais radical do que o proposto pela troika ao Chipre...

O presidente Nicos Anastasiades, como bom conservador, foi à TV dizer que lamentava, mas que não havia outra saída. Mas ontem o Parlamento reagiu à altura, mostrando que a soberania popular está acima das pressões do mundo das finanças: por 39 votos, os deputados rejeitaram o pacote fiscal da União Europeia. Outros 19, todos governistas, se abstiveram. O Parlamento disse que a UE estava chantageando o país. Com isso, cresceram os temores de falência do sistema bancário local e até de uma saída do Chipre da União Europeia. Mas o Parlamento lavou a alma do povo cipriota.    

Mesmo assim, o FMI permanece inflexível. Para a diretora-gerente Christine Lagarde, “as autoridades do Chipre têm que cumprir os compromissos adquiridos”. Em seu discurso em uma conferência sobre o futuro da União Monetária Europeia em Frankfurt, Lagarde afirmou que o setor bancário do Chipre deve realizar uma “reestruturação apropriada”. Já o novo chefe do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, teve que negar que haverá taxação de poupanças em outros países da União Europeia.

Nicósia, com a estátua de Makarios III
O Chipre é um país fragmentado. Nos anos 1970, conflitos entre as comunidades Greco-cipriota (cristã ortodoxa) e turco-cipriota (muçulmana) levaram à divisão do país em uma área grega, ao sul, e outra turca, ao norte. O norte – 40% do território – foi ocupado pela Turquia e a ONU enviou tropas para patrulhar a linha divisória, conhecida como Linha Verde.
A parte grega da ilha ingressou na União Europeia em 2004 e adotou o euro em 2008. Desde então, o país, de um milhão de habitantes, tornou-se um paraíso de lavagem de dinheiro. Estima-se que estão depositados cerca de € 70 bilhões no Chipre e que mais da metade desse valor venha do exterior, principalmente da Rússia e da Ucrânia. Para se ter uma ideia do que está em jogo, o setor bancário representa cerca 700% do PIB do país.   

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