Depois da pequena Islândia, agora foi a vez da ilha de
Chipre recusar a tunga que a troika (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e
FMI) queria impor ao povo para salvar os bancos. No sábado passado, com o país
quebrado, o “Politburo” da banca europeia propôs emprestar € 10 bilhões para
dar início a um processo de resgate financeiro dos bancos cipriotas. Em troca,
exigiu que o governo cobrasse um imposto compulsório de todos os correntistas
do país – 6,75% em todos os depósitos entre € 10 mil e € 100 mil e 9,99% acima
de € 100 mil. Com isso, havia a expectativa de se captar € 6 bilhões. O senador
Collor de Melo deve estar exultante, pois além de ter sido pioneiro na arte de
tungar correntistas, seu confisco foi muito mais radical do que o proposto pela
troika ao Chipre...
O presidente Nicos Anastasiades, como bom conservador,
foi à TV dizer que lamentava, mas que não havia outra saída. Mas ontem o
Parlamento reagiu à altura, mostrando que a soberania popular está acima das
pressões do mundo das finanças: por 39 votos, os deputados rejeitaram o pacote
fiscal da União Europeia. Outros 19, todos governistas, se abstiveram. O
Parlamento disse que a UE estava chantageando o país. Com isso, cresceram os
temores de falência do sistema bancário local e até de uma saída do Chipre da
União Europeia. Mas o Parlamento lavou a alma do povo cipriota.
Mesmo assim, o FMI permanece
inflexível. Para a diretora-gerente Christine Lagarde, “as autoridades do
Chipre têm que cumprir os compromissos adquiridos”. Em seu discurso em uma
conferência sobre o futuro da União Monetária Europeia em Frankfurt, Lagarde
afirmou que o setor bancário do Chipre deve realizar uma “reestruturação
apropriada”. Já o novo chefe do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, teve que negar que
haverá taxação de poupanças em outros países da União Europeia.
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Nicósia, com a estátua de Makarios III |
A parte grega da ilha ingressou na União Europeia em
2004 e adotou o euro em 2008. Desde então, o país, de um milhão de habitantes,
tornou-se um paraíso de lavagem de dinheiro. Estima-se que estão depositados cerca de €
70 bilhões no Chipre e que mais da metade desse valor venha do exterior,
principalmente da Rússia e da Ucrânia. Para se ter uma ideia do que está em
jogo, o setor bancário representa cerca 700% do PIB do país.
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