derrota de 1932 como se fosse vitória
Imagine se os argentinos, num acesso de demência, decretassem feriado nacional o dia 14 de junho (data da vitória dos britânicos sobre os argentinos na Guerra das Malvinas), promovendo desfiles militares e de veteranos para lembrar a data, como se comemorassem a vitória. Ou se, tomados pelo mesmo surto, os paraguaios comemorassem o 20 de junho (derrota para a Tríplice Aliança na Guerra do Paraguai) da mesma maneira.
Pois é o que os paulistas fazem todo 9 de julho, há décadas. Inconformada com a perda do poder político depois da Revolução de 1930, a oligarquia cafeeira de São Paulo pegou em armas em 1932 contra o governo central, inicialmente lutando pela secessão, como os Estados sulistas americanos tentaram durante a Guerra Civil nos Estados Unidos. Derrotada no campo de batalha, a elite paulista envolveu a insurreição militar com o véu diáfano da democracia, construindo o mito - que perdura até hoje - de que São Paulo promoveu uma revolução contra Getúlio Vargas "por uma Constituição" - tanto que o evento ficou conhecido como "Revolução Constitucionalista".
Curiosamente, uma verdadeira revolução popular eclodira nas ruas de São Paulo oito anos antes, em 1924, quando a Força Pública e populares se rebelaram contra o governo autocrata de Artur Bernardes - que governava o país sob estado de sítio desde 1922. A cidade foi bombardeada e cerca de 500 pessoas morreram. Derrotadas, as tropas do general Isidoro Dias Lopes reuniram-se à coluna liderada pelos capitães Luis Carlos Prestes e Miguel Costa, que formaria depois a lendária Coluna Prestes. Essa revolução fez parte do ciclo tenentista e teve cara de povo; talvez por isso tenha sido completamente esquecida. Já a "revolução" da oligarquia paulista, derrotada pelo despotismo esclarecido de Vargas, é lembrada ano a ano.
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