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quarta-feira, 29 de junho de 2011

A "SERVIDÃO VOLUNTÁRIA" DA NOSSA OLIGARQUIA

Várias informações desconcertantes, algumas vazadas pelo site WikiLeaks, mostram a completa falta de compromisso de determinados setores da sociedade brasileira com a soberania nacional:

1) Logo que assumiu o governo do estado de São Paulo em 2007, José Serra (sempre ele!) foi procurar o embaixador americano no Brasil, Clifford M. Sobel, para “pedir orientações” sobre como lidar com os ataques terroristas do PCC – comando do crime organizado de São Paulo.

O então governador Serra e o embaixador americano Clifford Sobel
Serra teria vários encontros com os americanos em busca de parcerias na área de segurança pública, negociando diretamente com o consulado dos EUA, sem comunicar o Governo Federal. Num desses encontros, Serra perguntou sobre a possibilidade de o DHS (Departament of Homeland Security) treinar fucionários do metrô e da rede de trens metropolitanos para enfrentar ataques e ameaças de bombas.


Nos meses seguintes, Serra voltou a se encontrar com representantes dos Estados Unidos e insistir em parcerias para lidar com o PCC, entre eles o subsecretário de Estado dos EUA para Negócios Políticos, Nicholas Burns. De acordo com relatório de 1º de março de 2007, falou no encontro sobre a “enorme influência” que a organização tem no sistema prisional no estado e pediu ajuda, incluindo tecnologia para “grampear telefones”.

Diante da sugestão de novas parcerias, o subsecretário Burns e o embaixador Sobel ressaltaram que seria importante obter aprovação do governo federal e destacaram que o Ministério de Relações Exteriores, o Itamaraty, “é às vezes sensível quanto a esses assuntos”.


O relatório afirma que “o governo estadual talvez precise de ajuda para convencer o governo federal sobre o valor de ter os Estados Unidos trabalhando diretamente com o Estado”. Serra disse que ele gostaria de falar com a mídia sobre a necessidade dessa ajuda.


2) Grupos ambientalistas paulistas – um coletivo de 60 entidades – fizeram uma teleconferência com integrantes do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID) por meio de um advogado para pedir a suspensão do financiamento às obras do Trecho Norte do Rodoanel. A construção dessa obra deverá custar R$ 6,1 bilhões e um terço desses recursos será financiado pelo BID. Os ambientalistas alegam que a obra provocará um grande impacto na mancha urbana e em áreas de proteção ambiental. O BID prometeu pronunciar-se sobre o pedido em uma semana.

3) Quando era diretor de Finanças Corporativas da Vale do Rio Doce, Guilherme Cavalcanti, atual Diretor-Financeiro e de Relações com Investidores da empresa, teria se queixado à embaixada dos Estados Unidos da “ingerência” do então presidente Lula, que queria obrigar a Vale a investir na construção de siderúrgicas e na exploração de cloreto de potássio – vital para fertilizantes – para agregar valor ao minério de ferro. Sobre esse assunto, o veterano jornalista Mauro Santayana escreveu um texto avassalador no Jornal do Brasil – “Os vassalos de Washington”, que reproduzo parcialmente:

“Se o presidente da República fez essa pressão, agiu dentro de sua responsabilidade, e em defesa dos interesses nacionais. É inconcebível que continuemos, como há quase um século, sendo dos principais fornecedores de minérios ao mundo, quando podemos exportar aço. Recorde-se que desde Júlio Bueno Brandão e Artur Bernardes, que governaram Minas há quase um século, uma das exigências dos mineiros era a de que devíamos reduzir o minério em fornos próprios. A Vale do Rio Doce surgiu ao mesmo tempo em que criávamos a Usina Siderúrgica Nacional. Quanto ao cloreto de potássio, trata-se de mineral necessário à produção de fertilizantes, indispensáveis à agricultura brasileira. O Brasil importa 90% de seu consumo, embora disponha de grandes reservas de exploração a céu aberto em seu território.

Alguns dirigentes da Vale vêem o Brasil como um imenso buraco...
Lula, além de exercer o direito de aconselhar esses investimentos, cumpriu seu dever. A Vale só foi privatizada com a salvaguarda de uma golden share, de que o Estado é portador, e lhe dá o direito de veto em decisões que possam comprometer o interesse soberano do Brasil. Assim, não houve ingerência, mas, sim o exercício de uma responsabilidade do presidente da República.


Além do episódio em si, há uma questão muito mais constrangedora para nós, brasileiros. Não é a primeira vez que – de acordo com o WikeLeaks e outras fontes, algumas delas norte-americanas – sabemos que brasileiros se prestam a levar informações sigilosas aos norte-americanos. Há casos em que ministros de Estado não se pejam de discordar dos rumos do próprio governo. O ministro Edison Lobão, segundo os documentos revelados por Assenge, disse aos diplomatas americanos que é partidário da privatização das empresas de energia elétrica. Ele deveria ser questionado pela Presidente da República: se é essa a sua posição, não pode continuar fazendo parte do governo.
Floriano Peixoto e a Revolta da Armada

Podemos tolerar tudo, menos traição. A democracia se faz na luta entre direita e esquerda, entre o capital e o trabalho, entre os neoliberais e os defensores do desenvolvimento autônomo do país. Mas progressistas ou conservadores, heterossexuais ou homossexuais, brancos ou negros, católicos ou protestantes, umbandistas ou budistas, todos os brasileiros temos o dever de fidelidade à Nação. Não podemos prestar vassalagem às potências estrangeiras, sob nenhum pretexto. O exemplo a seguir é o de Floriano Peixoto, que, no alvorecer da República, ameaçou responder à bala a 'ajuda' dos ingleses, na repressão à Revolta da Armada.


É natural que os diplomatas conversem com autoridades dos países em que atuam. Mas é necessário que, com toda a amabilidade, essas autoridades sejam discretas, e não façam revelações que comprometam a soberania nacional, nem o governo a que servem – a menos que o façam com o conhecimento prévio de seus superiores, e com propósito bem definido. É uma regra universal, e não devemos dela nos desviar.

Os acionistas da Vale do Rio Doce terão que chamar seu executivo às falas. É intolerável que admitam atos dessa natureza. São necessárias providências que os impeçam.


Registre-se, no final, que a remuneração dos oito diretores da empresa, incluído seu presidente, prevista para este ano é de mais de R$ 80 milhões. O minério que exportam pertence ao povo brasileiro.

E há quem se queixe dos proventos dos juízes de nossos tribunais superiores.”

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