Ludwig Feuerbach |
"A natureza da fé como tal é em toda parte a mesma. Essencialmente, a fé condena, dana. Toda bênção, tudo o que é bom, ela amontoa sobre si, sobre o seu Deus, como o amado sobre a sua amada; toda a maldição, toda desgraça e mal, lança ela à descrença. Abençoado, querido de Deus, participante da eterna felicidade é o crente; amaldiçoado, expulso de Deus e repudiado pelo homem é o descrente, pois o que Deus repudia o homem não pode aceitar, não pode poupar; isso seria uma crítica do juízo divino. Os maometanos aniquilam os descrentes com fogo e espada; os cristãos com as chamas do inferno. Mas as chamas do além já penetram no aquém para iluminar a noite do mundo descrente. Como o crente já antegoza aqui as alegrias do céu, então já devem também aqui, para antegosto do inferno, arder as chamas do atoleiro infernal, pelo menos nos momentos do mais alto entusiasmo de fé. [...] O princípio 'amai vossos inimigos' só se relaciona com inimigos pessoais, mas não com inimigos públicos, inimigos de Deus, os inimigos da fé, os descrentes.
O Inferno de Dante, ilustração de Gustave Doré (1832-1883) |
[...]
"A fé é um fogo devorador implacável para o seu oposto. Este fogo da fé contemplado como um ser objetivo é a ira de Deus ou, o que dá na mesma, o inferno, pois o inferno tem notoriamente sua base na ira de Deus. mas a fé possui este inferno em si mesma, em seu juízo de condenação. As chamas do inferno são apenas as centelhas do olhar aniquilador e furioso que a fé lança sobre os descrentes.
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Ludwig Feuerbach, A essência do Cristianismo
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