Pela primeira vez (“nunca antes na história desse país”...), os investidores internacionais vêem mais risco de calote nos Estados Unidos do que no Brasil. O Credit Default Swap (CDS) de um ano – instrumento de proteção contra o risco de um devedor não honrar seus compromissos – do Brasil atingiu 41,2 pontos-base, contra 49,7 pontos-base do CDS norte-americano. Antes que os ufanistas mais afoitos batam no peito, seria interessante lembrar que: a) os papéis da dívida pública americana, que ancoram a economia mundial, estão se tornando voláteis, o que pode provocar uma recessão mundial em breve – e, então, como vivemos num mundo globalizado, vai ser um salve-se quem puder; e b) a combinação de uma política de juros altos com o câmbio valorizado está desindustrializando rapidamente o Brasil. Apesar de todas as conquistas recentes, o modelo macroeconômico vigente ameaça o futuro do país.
Numa entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o economista Wilson Cano lembrou que, nos anos 1980, o peso da indústria de transformação no PIB do Brasil era de 33% e hoje caiu para apenas 16%. Ele entende que a diminuição da proporção da renda da indústria no PIB geral é um fenômeno normal em países avançados, como EUA e Europa Ocidental, onde a urbanização é quase total e a diversificação dos serviços é muito grande. Nestes países, a indústria representa cerca de 20% do PIB, mas em nações emergentes como o Brasil, a desindustrialização tem outro significado: é “uma precoce diminuição da presença da indústria em um país onde há ainda muita coisa para fazer em termos de industrialização”.
“Estamos há 31 anos em crise. Nos 80 veio a crise da dívida. Depois o neoliberalismo com um crescimento medíocre, até 2003”, diz Cano. Segundo o economista, “de 2004 para cá estamos vivendo um processo ilusório, em parte, porque estamos crescendo sem investimento. Estamos crescendo pelo consumo, pelo crédito. É a situação no mercado internacional que é excepcional, com os elevados preços de produtos primários”. Ele adverte também que a relação manufaturados/exportações totais do Brasil atingiu 59% e hoje está na casa dos 40%. “Se olharmos as estruturas produtivas e exportadoras segundo o grau de intensidade tecnológica, estamos regredindo. Estamos na contramão da história econômica”, diz ele.Finalmente, ele argumenta que a China não vai continuar pagando o altíssimo preço que paga hoje pelas commodities e que Pequim está buscando novas fontes de abastecimento, abrindo frentes de produção na África e na América Latina. A farra vai acabar.


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