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quarta-feira, 15 de junho de 2011

DEVAGAR COM O ANDOR...


Pela primeira vez (“nunca antes na história desse país”...), os investidores internacionais vêem mais risco de calote nos Estados Unidos do que no Brasil. O Credit Default Swap (CDS) de um ano – instrumento de proteção contra o risco de um devedor não honrar seus compromissos – do Brasil atingiu 41,2 pontos-base, contra 49,7 pontos-base do CDS norte-americano. Antes que os ufanistas mais afoitos batam no peito, seria interessante lembrar que: a) os papéis da dívida pública americana, que ancoram a economia mundial, estão se tornando voláteis, o que pode provocar uma recessão mundial em breve – e, então, como vivemos num mundo globalizado, vai ser um salve-se quem puder; e b) a combinação de uma política de juros altos com o câmbio valorizado está desindustrializando rapidamente o Brasil. Apesar de todas as conquistas recentes, o modelo macroeconômico vigente ameaça o futuro do país.

Numa entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o economista Wilson Cano lembrou que, nos anos 1980, o peso da indústria de transformação no PIB do Brasil era de 33% e hoje caiu para apenas 16%. Ele entende que a diminuição da proporção da renda da indústria no PIB geral é um fenômeno normal em países avançados, como EUA e Europa Ocidental, onde a urbanização é quase total e a diversificação dos serviços é muito grande. Nestes países, a indústria representa cerca de 20% do PIB, mas em nações emergentes como o Brasil, a desindustrialização tem outro significado: é “uma precoce diminuição da presença da indústria em um país onde há ainda muita coisa para fazer em termos de industrialização”.

“Estamos há 31 anos em crise. Nos 80 veio a crise da dívida. Depois o neoliberalismo com um crescimento medíocre, até 2003”, diz Cano. Segundo o economista, “de 2004 para cá estamos vivendo um processo ilusório, em parte, porque estamos crescendo sem investimento. Estamos crescendo pelo consumo, pelo crédito. É a situação no mercado internacional que é excepcional, com os elevados preços de produtos primários”. Ele adverte também que a relação manufaturados/exportações totais do Brasil atingiu 59% e hoje está na casa dos 40%. “Se olharmos as estruturas produtivas e exportadoras segundo o grau de intensidade tecnológica, estamos regredindo. Estamos na contramão da história econômica”, diz ele.

E a responsabilidade por essa situação, segundo Cano, não é apenas do governo. O empresariado brasileiro – aquilo que em priscas eras era chamado de “burguesia nacional” – não tem a menor visão estratégica, só pensa nos lucros imediatos. “A estratégia deles é ganhar dinheiro lá fora pegando o dinheiro do BNDES para matar boi nos EUA. Os empresários estão preocupados em ganhar dinheiro com dólar barato. Fazem negócio lá fora ou simplesmente aplicam no sistema financeiro. Com essa taxa de juros, quem tem o dinheiro aplica no mercado financeiro sem ter que se preocupar com trabalhador, processo produtivo, imposto”. Cano acredita que o Brasil está cantando como a cigarra da fábula de La Fontaine. “Cantando por exportar galinha, soja e minério de ferro. Mas isso nunca deu futuro a ninguém. As lideranças aceitam que é muito bom ficar exportando essas coisas, mas esquecem da regressão industrial”.


Finalmente, ele argumenta que a China não vai continuar pagando o altíssimo preço que paga hoje pelas commodities e que Pequim está buscando novas fontes de abastecimento, abrindo frentes de produção na África e na América Latina. A farra vai acabar. 

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