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terça-feira, 28 de junho de 2011

O RESGATE DE JOSUÉ DE CASTRO


José Graziano da Silva, novo diretor-geral da FAO
 A eleição de José Graziano da Silva como diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) tem todas as condições de se tornar um marco na história da organização. Se isso acontecer, Graziano terá resgatado a memória de Josué de Castro (1908-1973), médico e geógrafo pernambucano, autor de obras-referências sobre a questão: Geografia da Fome (1946) e Geopolítica da Fome (1951). Ele foi presidente do Conselho Executivo da FAO entre 1952 e 1956, onde tentou criar uma reserva internacional contra a fome que aproveitaria o excedente de alimentos das nações desenvolvidas. A falta de interesse dos países ricos fez com que a ideia de Josué de Castro nunca saísse do papel. “Não fomos suficientemente ousados, não tivemos a coragem suficiente para encarar, de frente, o problema e buscar as suas soluções”, disse o geógrafo em seu discurso de despedida do cargo. Perseguido pela ditadura militar, Josué de Castro exilou-se em Paris, onde morreu em 1973. 

Josué de Castro, autor de Geografia da Fome
Nos últimos anos, o Brasil tornou-se referência mundial em políticas públicas de combate à fome e redução da pobreza e é um dos novos atores do concerto das nações. Não à toa, Graziano foi eleito com apoio explícito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, derrotando o espanhol Miguel Ángel Moratinos, o candidato dos países ricos. Como postou o site Carta Maior, "o Brasil conquista assim seu primeiro posto de relevo entre as organizações internacionais. Graziano era o candidato dos países pobres que lutam contra o subdesenvolvimento e o poder neocolonial nos mercados mundiais, sobretudo de alimentos e matérias-primas. Não por acaso, pouco antes da votação, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, sem abrir o voto dos EUA, elogiou o candidato espanhol Miguel Ángel Moratinos, porta-voz da Europa e dos interesses dos países ricos. A vitória brasileira reposiciona o papel da FAO na política internacional. O que se espera agora é um organismo renovado que passe a ecoar, de fato, os interesses Sul-Sul, na luta pelo desenvolvimento, por segurança alimentar e justiça social. Graziano é um crítico da especulação financeira decorrente da desregulação do sistema bancário promovida pelo neoliberalismo. Ao contrário de seu adversário espanhol, em diversos pronunciamentos e artigos ele destacou a influência nefasta dos capitais especulativos na formação dos preços dos alimentos, gerando flutuações abruptas que asfixiam consumidores e produtores dos países pobres."

Curiosamente, num primeiro momento, a mídia nacional deu muito menos destaque à eleição de Graziano do que a mídia internacional, principalmente a europeia. Depois, passou a desqualificar o novo candidato, dizendo que o Fome Zero foi um programa fracassado. Ah, é claro, eu tinha me esquecido: nós não somos "caipiras"; somos "cosmopolitas". Fome é coisa de pobre... 

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