Os que estão embasbacados com o casamento real nem sequer imaginam, mas a Inglaterra já foi uma república, berço da primeira revolução burguesa do Ocidente. Seu principal líder foi Oliver Cromwell (1599-1658), uma espécie de Robespierre e Napoleão avant la lettre, só que inglês. Ele criou um exército para lutar ao lado das forças do Parlamento contra o rei Charles I na guerra civil que deu origem à Revolução Inglesa de 1642. Embora Cromwell não tivesse nenhuma experiência militar até os 43 anos, ele criou e liderou uma poderosa força de cavalaria, os “Ironsides” e, em três anos, subiu da patente de capitão a tenente-general. Ele convenceu o Parlamento a estabelecer um exército profissional – o New Model Army – que ganhou as batalhas decisivas contra as forças do rei em Naseby (1645).
A monarquia foi abolida e proclamada a república. A aliança do rei com os escoceses e sua subsequente derrota na Segunda Guerra Civil convenceu Cromwell que o monarca deveria ser julgado. Ele teve um papel decisivo no julgamento e na execução de Charles I em 1649. Note-se que a sentença determinava a execução do rei de Inglaterra, ao contrário do que acontecerá no julgamento de Luís XVI, rei de França, em 1793, quando o ex-monarca será sempre referido como “cidadão Luís Capeto”. Conforme observou Cromwell na ocasião, “executaremos o rei com a coroa na cabeça”.
Na sequência, ele lutou para conquistar o apoio dos conservadores para a nova república por meio da supressão de elementos radicais do exército. Cromwell esmagou a resistência na Irlanda em 1649 e depois derrotou as forças que apoiavam o filho de Charles I, Charles II, o que acabou com a guerra civil. Em 1653, frustrado com a falta de progresso político, Cromwell dissolveu o Parlamento e autonomeou-se “Lord Protector”.
Oliver Cromwell |
Charles I insultado por soldados de Cromwell, de Paul Delaroche |
Ainda que a revolução fracassasse aparentemente, sobreviveram idéias de tolerância religiosa, limitações do poder executivo central a respeito da liberdade pessoal das classes proprietárias e uma política baseada no consentimento de um setor muito amplo da sociedade. Essas idéias reaparecerão nos escritos de John Locke e se consolidarão [...] com organizações partidárias bem desenvolvidas, com a transferência de amplos poderes ao Parlamento, com um Bill of Rights e um Toleration Act, e com a existência de um eleitorado assombrosamente numeroso, ativo e articulado. É precisamente por estas razões que a crise inglesa do século XVII pode aspirar a ser a primeira "Grande Revolução" na história mundial, e portanto, um acontecimento de importância fundamental na evolução da civilização ocidental.”
Lawrence Stone, A Revolução Inglesa
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