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terça-feira, 5 de abril de 2011

HISTÓRIA BILATERAL DA INFÂMIA


O casal Julius e Ethel Rosenberg
Em 6 de abril de 1951, Julius e Ethel Rosenberg, judeus americanos residentes em Nova York, foram condenados à morte por espionagem em favor dos soviéticos. Eles eram acusados de participar de um esquema que passou à URSS os segredos da bomba atômica. Pouco mais de dois anos depois, em 19 de junho de 1953, eles seriam executados na cadeira elétrica da prisão de Sing Sing. O caso se tornaria uma das causes cérèbres que agitaram a consciência democrática do mundo, ao lado do Affaire Dreyfus, na França, e de Sacco e Vanzetti, na própria América dos anos 1920. Durante muito tempo se acreditou que os Rosenbergs tinham sido vítimas inocentes da Guerra Fria. Documentos recentes dos arquivos da ex-URSS, contudo, confirmam que o casal - ou pelo menos Julius - chefiava um grupo de espiões ligados ao Partido Comunista americano que realmente trabalhou para os soviéticos. Os Rosenberg morreram sem jamais terem admitido sua culpa. Eles traíram o país, é verdade, mas o fizeram porque acreditavam numa causa - o comunismo. Da mesma maneira que fizeram Kim Philby e os "cinco de Cambridge". Mas o casal Rosenberg pagou com a vida por suas convicções. 

O que causa espécie nessa história é a manipulação do drama dos Rosenberg pelos governos dos EUA e da URSS. Os americanos viviam o auge da caça às bruxas promovida pelo maccartismo e a execução do casal era tida como fundamental - pelo FBI e pela corja de direitistas que dominava o Congresso - para servir de exemplo na luta contra o comunismo. O julgamento dos Rosenberg foi uma farsa judicial que não resistiria a uma revisão honesta, porque as autoridades americanas não queriam revelar a verdadeira prova que incriminaria o casal, o Projeto Venona, uma ação da inteligência que desvendou os códigos das mensagens trocadas pelos agentes do NKDV - depois KGB. Essa decifragem permitiu ao FBI desbaratar o grupo de espiões, mas como o governo optou por manter a descoberta em segredo, a condenação foi feita com base em evidências frágeis e testemunhos que depois seriam desmentidos. 

Rudolf Slansky no tribunal de Praga

Moscou, por outro lado, armou tardiamente um estardalhaço em torno do caso acusando os EUA de antissemitismo apenas porque tinha necessidade de colocar uma cortina de fumaça sobre seu próprio antissemitismo, o Processo Slansky, que ocorria na Tchecoslováquia sovietizada na mesma época. Naquele processo, foram presos sob acusação de alta traição Rudolf Slansky, secretário-geral do PC Tchecoslovaco, e outros treze altos dirigentes comunistas - 11 dos quais, entre eles Slansky, eram judeus. Num julgamento-espetáculo digno dos Processos de Moscou dos anos 1930 na URSS, os réus foram acusados de serem "burgueses, sionistas e tititas (adeptos do líder iugoslavo Josip Tito)". Onze dos acusados - oito dos quais judeus - foram condenados e executados. O episódio é contado no filme A Confissão, de Costa-Gravas.
      

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