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O casal Julius e Ethel Rosenberg |
Em 6 de abril de 1951, Julius e Ethel Rosenberg, judeus americanos residentes em Nova York, foram condenados à morte por espionagem em favor dos soviéticos. Eles eram acusados de participar de um esquema que passou à URSS os segredos da bomba atômica. Pouco mais de dois anos depois, em 19 de junho de 1953, eles seriam executados na cadeira elétrica da prisão de Sing Sing. O caso se tornaria uma das causes cérèbres que agitaram a consciência democrática do mundo, ao lado do Affaire Dreyfus, na França, e de Sacco e Vanzetti, na própria América dos anos 1920. Durante muito tempo se acreditou que os Rosenbergs tinham sido vítimas inocentes da Guerra Fria. Documentos recentes dos arquivos da ex-URSS, contudo, confirmam que o casal - ou pelo menos Julius - chefiava um grupo de espiões ligados ao Partido Comunista americano que realmente trabalhou para os soviéticos. Os Rosenberg morreram sem jamais terem admitido sua culpa. Eles traíram o país, é verdade, mas o fizeram porque acreditavam numa causa - o comunismo. Da mesma maneira que fizeram Kim Philby e os "cinco de Cambridge". Mas o casal Rosenberg pagou com a vida por suas convicções.
O que causa espécie nessa história é a manipulação do drama dos Rosenberg pelos governos dos EUA e da URSS. Os americanos viviam o auge da caça às bruxas promovida pelo maccartismo e a execução do casal era tida como fundamental - pelo FBI e pela corja de direitistas que dominava o Congresso - para servir de exemplo na luta contra o comunismo. O julgamento dos Rosenberg foi uma farsa judicial que não resistiria a uma revisão honesta, porque as autoridades americanas não queriam revelar a verdadeira prova que incriminaria o casal, o Projeto Venona, uma ação da inteligência que desvendou os códigos das mensagens trocadas pelos agentes do NKDV - depois KGB. Essa decifragem permitiu ao FBI desbaratar o grupo de espiões, mas como o governo optou por manter a descoberta em segredo, a condenação foi feita com base em evidências frágeis e testemunhos que depois seriam desmentidos.
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Rudolf Slansky no tribunal de Praga |
Moscou, por outro lado, armou tardiamente um estardalhaço em torno do caso acusando os EUA de antissemitismo apenas porque tinha necessidade de colocar uma cortina de fumaça sobre seu próprio antissemitismo, o Processo Slansky, que ocorria na Tchecoslováquia sovietizada na mesma época. Naquele processo, foram presos sob acusação de alta traição Rudolf Slansky, secretário-geral do PC Tchecoslovaco, e outros treze altos dirigentes comunistas - 11 dos quais, entre eles Slansky, eram judeus. Num julgamento-espetáculo digno dos Processos de Moscou dos anos 1930 na URSS, os réus foram acusados de serem "burgueses, sionistas e tititas (adeptos do líder iugoslavo Josip Tito)". Onze dos acusados - oito dos quais judeus - foram condenados e executados. O episódio é contado no filme A Confissão, de Costa-Gravas.
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