1) No dia 1º de maio de 1981 um Puma foi em direção ao Pavilhão do Riocentro, onde se realizava um show em homenagem ao Dia do Trabalho organizado por sindicalistas e entidades de esquerda. No interior do carro estavam dois agentes do Doi-CODI do Rio, o capitão Wilson Luís Alves Machado e o sargento Guilherme Pereira do Rosário. O carro carregava uma bomba que deveria explodir durante o show, mas ela detonou antes da hora, matando o sargento e ferindo o capitão. Meia hora depois, outra bomba explodiu na caixa de energia. E havia uma terceira bomba no carro, que não explodiu. O ato fora coordenado pelo Centro de Informações do Exército (CIE) e visava provocar as explosões para criar pânico. O que se seguiu depois foi um dos maiores espetáculos de hipocrisia do regime militar: o governo apressou-se a classificar o ato como um frustrado atentado terrorista de grupos de esquerda; o inquérito foi uma peça de fancaria produzida pelo coronel Job Lorena de Sant’Ana. Os terroristas viraram heróis do Exército e foram homenageados como se tivessem sido vítimas. O caso levou à demissão do general Golbery do Couto e Silva, chefe da Casa Civil e mentor da “abertura lenta e gradual” de Geisel-Figueiredo.
2) No ano anterior, em 27 de agosto de 1980, uma bomba foi enviada à sede do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro, matando a secretária Lida Monteiro da Silva, de 60 anos. Bombas semelhantes tinham sido colocadas na sede da Associação Brasileira de Imprensa e na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Bancas de jornais também foram incendiadas por venderem jornais da imprensa alternativa. Era obra do “porão” do regime, grupos da extrema direita civil e militar inconformados com o avanço das lutas democráticas no país. Reflexo também da anarquia dos quartéis na época do general-presidente João Baptista Figueiredo. Aconteceu quase um ano depois da Lei da Anistia. Ninguém jamais foi punido.
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3) Antes do AI-5, em outubro de 1968, o deputado Marílio Ferreira Lima (MDB-PE) denunciou na Câmara um sinistro plano da direita militar: o brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, chefe de gabinete do Ministro da Aeronáutica, planejava usar o Para-SAR, unidade de paraquedistas de salvamento na selva, para perpetrar atentados terroristas no Rio de Janeiro - explodir a Sears, o Citibank e a Embaixada americana, além de dinamitar o gasômetro da avenida Brasil na hora do rush, atribuindo depois os atentados à esquerda. O plano incluía o assassinato de 40 líderes de oposição, mas acabou fazendo água pela ação corajosa do capitão da Aeronáutica Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, o “Sérgio Macaco”, que o denunciou aos seus superiores. O caso foi levado ao brigadeiro Eduardo Gomes, patrono da Aeronáutica e um dos heróis do Levante do Forte de Copacabana em 1922, que apoiou o capitão. Mas o inquérito da FAB foi arquivado e seu relator, o brigadeiro Itamar Rocha, exonerado do cargo de diretor-geral das Rotas Aéreas e preso por alguns dias. O capitão Sérgio foi expulso da Aeronáutica e cassado pelo AI-5.
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O brigadeiro Burnier, morto em 2000, foi um crápula. Participou em 1959 da Revolta de Aragarças (GO) contra o governo Kubitschek, quando sequestrou um avião da Panair. Um dos criadores do CISA (órgão de informações da Aeronáutica), em 1971 chefiava a III Zona Aérea quando lá foi assassinado o militante Stuart Angel Jones. Sobre Burnier, disse o brigadeiro Eduardo Gomes, em carta ao presidente Geisel: "é um insano mental inspirado por instintos perversos e sanguinários, sob o pretexto de proteger o Brasil do perigo comunista".
sábado, 9 de janeiro de 2010
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