A Bélgica é mais nova como nação do que o Brasil. Nasceu em 1830, depois de passar décadas sob o domínio de austríacos, espanhois, franceses e holandeses. Falar em "nação" é um certo exagero: a Bélgica é uma abstração e nunca teve um senso de nacionalidade como os demais países europeus. Sua criação foi obra do império britânico, que juntou flamengos (da região de Flandres, de origem holandesa) e valões (da Valônia, francófanos) para criar um bolsão e evitar a anexação da Valônia à França quando a Revolução de 1830 agitou Paris. O primeiro rei belga, Leopoldo I, era alemão (da dinastia Saxe-Coburg-Gotha, origem da casa dos Windsor britânica).
Ironicamente, o território belga foi palco de grandes batalhas em que a Europa se dilacerou, desde Waterloo, onde Napoleão foi definitivamente derrotado em 1815, até Ypres, Passchendaele (Primeira Guerra Mundial) e Ardennas (Segunda).
A Bélgica se equilibrava sobre um pacto federativo que se imaginava duradouro, mas que agora, com a vitória do partido separatista N-VA, do flamengo Bart de Wever, pode chegar ao fim. E pior, se a Bélgica se "evaporar", mesmo pacificamente como defende De Wever, haverá reflexos graves na União Europeia. Afinal, a Bélgica foi pioneira, ao lado da França e Alemanha, do Plano Schumann-Jean Monnet, que há 60 anos criou as bases da unidade europeia como forma de ultrapassar os traumas das duas guerras mundiais. Como levar adiante essa ideia se, à grave crise econômica que ora assola a comunidade, se juntar a ameaça de um de seus membros-fundadores de implodir?
Não é por acaso que a capital da União Europeia é Bruxelas: a Bélgica foi o modelo sobre o qual projetou-se a ideia da Comunidade Europeia - um superestado artificial capaz de suprimir conflitos nacionais, impedindo a eclosão de novas guerras. Uma bela ideia, mas um tanto utópica, como a proposta de tornar o mundo "um lugar seguro para a democracia" do presidente americano Woodrow Wilson, que abominava o realismo político e o "equilíbrio do poder".
A realidade acaba se impondo sobre as abstrações históricas, como sabiam Churchill, De Gaulle e Stálin, mais do que Roosevelt. E se tudo o que é sólido se desmancha no ar, imagine o que não é...
terça-feira, 15 de junho de 2010
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