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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O GOVERNO FHC FOI EXPRESSÃO DA MISÉRIA DE SUA TEORIA


O jornalista e blogueiro Paulo Henrique Amorim faz uma síntese dos legados históricos de Getúlio Vargas e FHC a partir de leitura de textos de um livro recentemente lançado, A Era Vargas–desenvolvimentismo, economia e sociedade (UNESP). Acrescento que a “teoria da dependência”, versão FHC/Enzo Faletto, classifica o capitalismo brasileiro como “dependente-associado”, carente de uma burguesia nacional com protagonismo. Neste quadro, só restava ao empresariado brasileiro a associação ao capital externo e às multinacionais, como se dizia na época. FHC nunca disse “esqueçam o que escrevi”, porque, ao contrário, sua política entreguista foi coerente com sua versão de “teoria da dependência”, que pouco tinha a ver com a verdadeira Teoria da Dependência, elaborada por marxistas como André Gunder Frank e Theotônio dos Santos.   


Com a ajuda de Vargas, Bresser-Pereira desconstrói FHC

O que separa Vargas e Bresser de Fernando Henrique é o nacionalismo

Por Paulo Henrique Amorim

Em dezembro de 1994, já eleito presidente, FHC alegou restar “um pedaço do nosso passado que ainda atravanca (sic) o presente e retarda o avanço da sociedade. Refiro-me ao legado da Era Vargas, ao seu modelo autárquico e ao seu Estado intervencionista.” (Folha, 18/dez/1994)

Em 1999, o ex-presidente avaliou seu primeiro mandato como o início da superação da Era Vargas: “Eu disse … quando fui eleito, que queria botar fim na Era Vargas … Acho que estamos de cheios viver sob o mando do que Getúlio fez.” (in Saretta, F. – “O jornal O Estadão de S. Paulo e Getúlio Vargas” – Encontro Nacional de Economia Política, 9, 2004, Uberlândia, 2004, p.4)

Essas inesquecíveis afirmações – um misto de megalomania, arrogância e tiro no pé – foram extraídas de “A Era Vargas – Desenvolvimentismo, economia e sociedade”, organizado por Pedro Paulo Zahluth Bastos e Pedro Cezar Dutra Fonseca, Editora Unesp, Instituto de Economia da Unicamp, e Centro Internacional Celso Furtado, 2011, São Paulo.

Ali está, também, “Getúlio Vargas: o estadista, a nação e  democracia”, ensaio de Luis Carlos Bresser-Pereira, p. 93.

Bresser quer provar que Vargas foi o maior estadista brasileiro do século XX e, na História brasileira, só se compara a José Bonifácio.

Trata-se de um ensaio de “teoria política”, em que “importa saber como a ação política de Vargas se relacionou com a construção da nação e do Estado brasileiro, e, em consequência, com a revolução industrial e nacional, e com a transição de um Estado oligárquico para um democrático.”

“Vargas tem muitos adversários: desde os remanescentes da oligarquia exportadora paulista e dos intelectuais de esquerda da Escola de Sociologia da Universidade de São Paulo até os neoliberais de hoje cuja hegemonia desde 1991 levou o Brasil novamente à condição de quase colônia.”

Fernando Henrique, como se sabe, se enquadra em duas das três categorias de adversários de Vargas: ele foi da Escola de Sociologia da USP e de esquerda, a ponto de usar o método marxista de análise – embora, depois, numa entrevista ao Mino, dizer que tinha retirado a informação na segunda edição de um de seus (ilegíveis) livros.

E, como se sabe, o Farol de Alexandria foi o patrono e teólogo do neolibelismo (*).

E só não devolveu o Brasil à posição de colônia – depois de tirar os sapatos -, porque foi destruído por um terremoto de nome “Lula”.

Nessas duas condições – ex-esquerdista e neolibelista (*) – ele serviu aos interesses da oligarquia exportadora paulista e suas ramificações na Avenida Paulista, onde o casarão do barão do café se converteu em arranha-céu de banqueiro.

Bresser-Pereira rompeu com o PSDB de Fernando Henrique, quando chegou à conclusão de que o PSDB era irremediavelmente entreguista.

(Conta-se que Bresser foi a um cartório para se desligar formalmente, inequivocamente,  do partido entreguista.)

O importante ensaio de Bresser pode ser lido nesse timbre: os teóricos da “dependência associada” fracassaram e Vargas está vivo.

Os que tiraram o sapato se baseavam numa pesquisa de meia sola do próprio Fernando Henrique para provar que o Brasil não tinha burguesia.

“O nacionalismo é essencialmente a ideologia da formação do Estado-nação; é a ideologia que um povo, sentindo-se capaz de se transformar em uma nação, usa para poder dotar-se de um estado com soberania sobre seu território,” diz Bresser.

“Nos 15 anos de seu primeiro Governo, são criadas a Companhia de Álcalis, e a Companhia Vale do Rio Doce (que o FHC e o Padim Pade Cerra venderam na bacia das almas – PHA); no seu segundo Governo, entre 1951 e 54, a Petrobras (que o Farol de Alexandria e o Cerra quase entregam à Chevron – PHA), a Eletrobrás e o BNDES.”

“Foi a primeira vez na histórica política do Brasil que um grande líder politico foi buscar as bases de sua legitimidade no povo, especificamente nos trabalhadores urbanos que já começavam então a se manifestar por meio de movimento sindicais.”

Vargas fundou o primeiro partido de massas do país, o Partido Trabalhista Brasileiro, que o jenio do Golbery desfigurou, mas que se refez no PT.

Vargas fez a CLT, a lei do salário mínimo.

Ao equipar o Estado, construir uma Nação com a incorporação dos pobres ao processo político, Bresser conclui que Vargas fincou as bases de regime democrático.

Democracia que os aliados do Fernando Henrique dinamitaram com o suicídio de Vargas, a tentativa de impedir a posse de JK – o sucessor de Vargas -, o Golpe contra Jango, Brizola, Lula e Dilma (o último, ainda em curso).

(**) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.

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