
Hobsbawm é considerado um dos maiores historiadores do
século XX. Escreveu, entre outros livros, uma trilogia em que analisava o que
ele classificava de “o longo século XIX”: A
Era das Revoluções, sobre as revoluções européias de 1789 a 1848; A Era do Capital, enfocando o período da
estabilização pós-revolucionária até a depressão de 1875; e A Era dos Impérios, cobrindo o período
do desenvolvimento do imperialismo, entre 1875 e 1914. O “breve século XX” foi
analisado por Hobsbawm em seu livro mais famoso, A Era dos Extremos, período entre 1914 (Primeira Guerra
Mundial) e 1991 (Colapso da URSS).
O historiador também era um grande entusiasta e
crítico do jazz; escreveu um livro belíssimo chamado História social do jazz e publicava críticas e resenhas sobre esse
gênero musical. Outro livro seu que vale a pena registrar é Nações e
Nacionalismo desde 1780.
Algumas de suas definições:


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"O ventre que gerou o monstro ainda é fecundo" |
“Minha convicção de ser de esquerda
continua. Me posiciono fortemente contra o imperialismo e contra as forças que
acham que fazem um bem a outros países ao invadi-los, e contra a tendência de
pessoas que, por serem brancas, são superiores. Essas certezas eu não abandono.
Mas algumas das minhas convicções mudaram. Não creio mais que o comunismo, como
foi aplicado, poderia dar certo. E não sou mais revolucionário. Porém, não
acho que tenha sido mau para mim e para minha geração termos sido
revolucionários. Cresci na Alemanha de Hitler, sempre odiarei totalitarismos.”
Abaixo, trechos de uma entrevista que Hobsbawm
concedeu à Folha em 2009:
O que mais deveria ser discutido no
aniversário de 20 anos da queda do Muro de Berlim?
A celebração é oportuna porque o capitalismo agora chegou a seu limite. A crise econômica mundial é o fim de um ciclo, que começou a ruir quando caiu o Muroem Berlim. No Leste
Europeu, vejo dificuldade em rompimento com o legado comunista. Mas é o
Ocidente quem deve refletir mais sobre o que ocorreu na Guerra Fria e o que
pode ser feito para evitar um novo colapso.
As “Eras” são consideradas um exemplo de boa análise histórica dedicada a um amplo período. O sr. acha que falta ambição a historiadores hoje?
Para fazer história com uma perspectiva maior, é preciso ser um intelectual maduro. Hoje, os jovens historiadores gastam muito mais tempo em suas especializações. Quando estão aptos a dar um passo maior, hesitam. A história equivocadamente se afastou da “história total” que fazia Fernand Braudel [1902-1985].
A celebração é oportuna porque o capitalismo agora chegou a seu limite. A crise econômica mundial é o fim de um ciclo, que começou a ruir quando caiu o Muro
As “Eras” são consideradas um exemplo de boa análise histórica dedicada a um amplo período. O sr. acha que falta ambição a historiadores hoje?
Para fazer história com uma perspectiva maior, é preciso ser um intelectual maduro. Hoje, os jovens historiadores gastam muito mais tempo em suas especializações. Quando estão aptos a dar um passo maior, hesitam. A história equivocadamente se afastou da “história total” que fazia Fernand Braudel [1902-1985].
O sr. começa A Era dos Impérios contando uma história autobiográfica (a do encontro de seus pais no
Egito) e então propõe uma reflexão sobre história e memória. Quão diferente foi
escrever este volume, que se refere a passagens mais próximas do seu olhar no
tempo, do que os anteriores?
Neste
livro tive de trabalhar com o que chamo de “zona de penumbra”, onde se misturam
nossas lembranças e tradições familiares com o que aprendemos depois sobre
determinado período. Não é fácil, pois trata-se de um território de incertezas
e em que há um elemento afetivo. Por outro lado, trata-se de uma oportunidade
de estimular aquele que lê a pensar sobre como seu próprio passado está
relacionado com a história.
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Vladimir Illicht Lênin, líder da Revolução Bolchevique de 1917 |
Em seu livro (Reappraisals), o
historiador britânico Tony Judt escreveu um ensaio sobre o senhor (Eric
Hobsbawm and the Romance of Communism).
Neste, mostra admiração por seu conhecimento, mas faz uma severa crítica: “para
fazer o bem no novo século, nós devemos começar dizendo a verdade sobre o
antigo. Hobsbawm se recusa a mirar o demônio na cara e chamá-lo pelo nome”.
Como o sr. responderia a seu colega?
A
crítica de Judt não se justifica. O que ele quer é que eu diga que estava
errado. Em A Era dos
Extremos, eu encaro o problema, o critico e condeno. Não tenho problemas em
dizer que a Revolução Russa causou dor e sofrimento à população russa. Porém, o
esforço revolucionário foi algo heroico. Uma tentativa de melhorar a sociedade
como não se viu mais na história. Me recuso a dizer que perdi a esperança.
O sr. havia dito, numa entrevista ao Independent, que
havia alguns clubes dos quais não iria ser sócio nunca, referindo-se aos
intelectuais ex-comunistas. Ainda pensa assim?
Não
vejo problema quando um intelectual, especialmente de países do Leste Europeu,
percebe que a democracia é melhor do que o sistema autoritário em que vivia. É
normal a mudança de posição quando surgem fatos novos. O ex-comunista que
condeno é aquele que antes militava em grupos de esquerda e que hoje tem uma
bandeira única, a de ser anticomunista apenas, esquecendo-se do resto das
ideias pelas quais lutava. Também me entristece ver intelectuais jovens, que
não passaram pela história dessas lutas, repetindo e tentando tirar benefício
desse mesmo tipo de propaganda.
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